A água, “é um bem magnífico, aparentemente à disposição de todos, mas na realidade é algo de que alguns abusam e de que outros carecem. As Nações Unidas apresentaram um relatório segundo o qual «os norte-americanos consomem 550 litros de água por pessoa e dia; os europeus, uma média de 350, e os africanos da África negra, entre 8 e 10 litros de água por pessoa e dia», o que demonstra as enormes diferenças do planeta” (Eduardo Punset, ‘Porque somos como somos’).
Simultaneamente, segundo dados da OMM (Organização Mundial de Meteorologia), 17 países registaram recordes de temperaturas máximas (Ago.10). No verão passado, na Catalunha, devido à seca as autoridades proibiram o enchimento de piscinas e outros consumos não essenciais. No entanto, existem novos projectos para a instalação de campos de golf, e os que estão em construção continuavam a consumir as quantidades de água que se imagina. A guia de um autocarro turístico vindo da Galiza, ao passar por um daqueles campos, mostrava a beleza do verde, escamoteando o problema da falta de água para o qual os galegos estavam perfeitamente conscientes.
40% da comida que consumimos tem origem em plantações de regadio e esta consome 70% da água que gastamos. 20% da água doce do planeta corre na floresta amazónica (‘Planeta Terra’ de 21Jun.10 em ‘La 2’), mas também esta se vê acossada pelos incêndios e pela seca: este ano observámos como pequenos barcos ficaram encalhados na areia do leito seco do rio Negro.
Desde 1850 a temperatura média no mundo aumentou 1º (em 2100 poderá ter subido de 2 a 6,4º) devido, em parte, à crescente acumulação de CO2 (sobretudo a partir dos anos 80). Com isso os glaciares reduziram-se 10%, o nível do mar subiu e a água doce escasseia… Mário Molina, Prémio Nobel da Química em 1995, disse: “Ficaremos sem atmosfera antes de ficarmos sem petróleo”.
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
sábado, 27 de novembro de 2010
Nova recessão ao virar da esquina… - Crónica 39
Os Estados Unidos da América são o país com o maior número de reclusos: têm 2 milhões de presidiários, e muitos (7 em cada 10, no caso da Califórnia) são designados de “passageiros frequentes” porque reincidem. Um membro de um gang, tatuado, esteve preso 96 vezes. Muitos não têm nada lá fora e, ao sair, recebem 180USD para refazer a vida ou, como bilhete de volta!!!
A China, há 50 anos era um país pobre; há 15 anos era ‘emergente’; no ano passado passou a ser a 2ª economia do mundo; agora, a crise internacional e consequente redução de encomendas obrigou ao encerramento de fábricas. Só no delta do rio da Pérolas existem 35 milhões de desempregados… (Histórias do Mundo, SIC, 26.11.10). Em Portugal, a Caritas aumentou o número de pessoas a quem presta apoio de 5.000 para 62 mil (dia 15 Nov.) e considerou que os casos de pobreza aumentaram 30% este ano.
Enquanto o economista George Soros anunciava (em Junho) que a China iria “liderar a recuperação económica …”, e o mundo esboçava um sorriso por os americanos começarem a provar o amargo do seu próprio remédio (ao ver emergir uma economia que pode superar a deles), eu acrescentei numa crónica deste blog, em Julho, que provavelmente a China iria liderar também o próximo crash…: “O crescimento anual de dois dígitos da China pode bem vir a provocar o próximo ‘crash’ global pois não é possível sustentá-lo indefinidamente. A China corre o risco de se tornar na vítima do seu próprio crescimento descontrolado, e com ela arrastar toda a economia mundial! O mundo está repleto de exemplos de coisas que ultrapassam as nossas medidas e capacidade de domínio. A ambição desmesurada do Homem é, frequentemente, a causa da sua própria ruína”.
Se alguém do governo PS ou algum apologista do neo-liberalismo lê-se este texto, sem dúvida falaria de discurso alarmista e de fatalismo e que o que é necessário é ‘dar confiança aos portugueses’… mas isso são as sopinhas mornas a que estes ‘dirigentes da nação’ e amigos da ‘privatização dos lucros e socialização dos prejuízos’ nos querem habituar para continuar a viver no irrealismo do seu alto pedestal! “Esta gente está protegida e não faz esforço nenhum”, disse Macário Correia (RTP, 27.11.10), referindo-se aos defensores do regime de excepção para altos quadros de empresas públicas, no que concerne à aplicação de reduções salariais de 5%! “Sobram exemplos de até que ponto os dirigentes políticos e os líderes sociais se limitam a gerir a ignorância dos outros”, escreveu Eduardo Punset.
A China, há 50 anos era um país pobre; há 15 anos era ‘emergente’; no ano passado passou a ser a 2ª economia do mundo; agora, a crise internacional e consequente redução de encomendas obrigou ao encerramento de fábricas. Só no delta do rio da Pérolas existem 35 milhões de desempregados… (Histórias do Mundo, SIC, 26.11.10). Em Portugal, a Caritas aumentou o número de pessoas a quem presta apoio de 5.000 para 62 mil (dia 15 Nov.) e considerou que os casos de pobreza aumentaram 30% este ano.
Enquanto o economista George Soros anunciava (em Junho) que a China iria “liderar a recuperação económica …”, e o mundo esboçava um sorriso por os americanos começarem a provar o amargo do seu próprio remédio (ao ver emergir uma economia que pode superar a deles), eu acrescentei numa crónica deste blog, em Julho, que provavelmente a China iria liderar também o próximo crash…: “O crescimento anual de dois dígitos da China pode bem vir a provocar o próximo ‘crash’ global pois não é possível sustentá-lo indefinidamente. A China corre o risco de se tornar na vítima do seu próprio crescimento descontrolado, e com ela arrastar toda a economia mundial! O mundo está repleto de exemplos de coisas que ultrapassam as nossas medidas e capacidade de domínio. A ambição desmesurada do Homem é, frequentemente, a causa da sua própria ruína”.
Se alguém do governo PS ou algum apologista do neo-liberalismo lê-se este texto, sem dúvida falaria de discurso alarmista e de fatalismo e que o que é necessário é ‘dar confiança aos portugueses’… mas isso são as sopinhas mornas a que estes ‘dirigentes da nação’ e amigos da ‘privatização dos lucros e socialização dos prejuízos’ nos querem habituar para continuar a viver no irrealismo do seu alto pedestal! “Esta gente está protegida e não faz esforço nenhum”, disse Macário Correia (RTP, 27.11.10), referindo-se aos defensores do regime de excepção para altos quadros de empresas públicas, no que concerne à aplicação de reduções salariais de 5%! “Sobram exemplos de até que ponto os dirigentes políticos e os líderes sociais se limitam a gerir a ignorância dos outros”, escreveu Eduardo Punset.
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quarta-feira, 17 de novembro de 2010
Fantasia e justiça social! - Crónica 38
Nem de propósito! Depois de em Wall Street se ter levantado, de novo, o fantasma dos prémios dos executivos de grandes empresas financeiras americanas intervencionados com dinheiros públicos no inicio da actual crise internacional – foi estimado em 104 mil milhões de Euros o valor dos ganhos em prémios pelos executivos das empresas da maior praça bolsista do mundo, o que representa 4% mais dos que no ano de 2009 que já tinha sido um recorde (TVE1, 13.10.10); e depois daquele e-mail que circulou por aí mostrando como 20 administradores de empresas públicas portuguesas (vinte, enfatizo) recebem 52,8 milhões de euros por ano (desde os 58,8 mil euros/mês do administrador da Carris aos 371 mil/mês do administrador da CGD e aos 420 mil do da TAP, mais prémios, 13º mês e subsídios), o suficiente para dar emprego a 4.190 funcionários públicos (a 900 euros/mês, ou a 6.285 pessoas se recebessem 600€/mês, que é mais que o salário mínimo)! Quem fez circular este e-mail exclamava no final: “E depois ainda querem saber se a malta está disposta a abdicar do subsídio de férias e/ou Natal para ajudar o país…”; e considerava ‘escandalosos’ e ‘ofensivos’ os salários pagos pela RTP aos seus directores e jornalistas, uma empresa financiada com dinheiro dos contribuintes e que dá prejuízo (José Alberto Carvalho, como director de informação, tem um vencimento ilíquido, e sem contar com as ajudas de custos, de 15.999 euros por mês)! A EDP ficava fora desta lista, mas o seu administrador, António Mexia, esteve recentemente na televisão a tentar explicar o inexplicável: a barbaridade que representa o volume recorde dos prémios que recebeu… O governo vem, só agora, proibir a acumulação de vencimentos e pensões na função pública. Como é que isto foi possível até hoje? Se a medida se destinasse a ‘povinho’ provavelmente teria efeitos retroactivos, mas sendo para a classe dirigente…
Depois destes dados, dizia, a RTP1 (em Jornal da Tarde de 10.11.10) entrevistou uma funcionária do sistema fiscal suíço. Vejam só: na Suíça, o máximo que uma pessoa pode receber de reforma são 1.700 euros por mês (considerado o suficiente para uma vida condigna), para além de eventuais benefícios a titulo privados. O Estado garante, desta forma, o essencial aos mais necessitados. Democratizando o sistema sem comprometer o orçamento da segurança social. Afinal aquilo que eu defendia, como se recordarão os que comigo falaram sobre o tema! Por cá, continuamos a viver no ‘País das maravilhas’!!!
Depois destes dados, dizia, a RTP1 (em Jornal da Tarde de 10.11.10) entrevistou uma funcionária do sistema fiscal suíço. Vejam só: na Suíça, o máximo que uma pessoa pode receber de reforma são 1.700 euros por mês (considerado o suficiente para uma vida condigna), para além de eventuais benefícios a titulo privados. O Estado garante, desta forma, o essencial aos mais necessitados. Democratizando o sistema sem comprometer o orçamento da segurança social. Afinal aquilo que eu defendia, como se recordarão os que comigo falaram sobre o tema! Por cá, continuamos a viver no ‘País das maravilhas’!!!
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segunda-feira, 25 de outubro de 2010
A nova pobreza II - Crónica 37
(continuação da anterior)
Se é verdade que existe uma relação tão directa entre riqueza, consumo e poluição (ver crónica 17, de 19.07.09), que domina a sociedade ocidental actual, então, também a cada pessoa devia estar associada uma quota de consumo/poluição (tal como existe a nível de certos países, no caso da poluição, no caso da produção de leite ou cereais, ou no caso das capturas piscícolas), dentro da qual estaria permito ‘respirar’ a qualquer um, independentemente dos seus rendimentos. No caso dos impostos e dos preços dos serviços básicos (água, luz, habitação, etc.) é necessário criar uma ‘bolsa de ar’, um escalão mínimo dentro do qual nenhum cidadão (desempregados, reformados, trabalhadores temporários, os que auferem salários mínimos) tenha que agonizar para se manter à tona de água. Para lá daquela quota, a cobrança de bens e serviços (sobretudo se resultam poluentes) far-se-ia numa proporcionalidade crescente. Quem mais consome/polui, mais paga! O problema é que isto vai contra toda a lógica capitalista de maximização do consumo: quanto mais consomes mais barato te sai o preço unitário. A própria UE apoiava, através da sua politica agrícola comum, as explorações agrícolas em função da sua produtividade, beneficiando os maiores (porque mais facilmente diluem os custos unitários). Ora, se já são grandes e produtivas para que é que necessitam de apoios?! “… a indústria alimentar à escala global está estruturada para favorecer uma produção muito abundante e a baixo custo, e os fabricantes de alimentos, as empresas de transporte de longa distância, os gigantes do fast food, as empresas publicitárias, os supermercados e os produtores industriais (os defensores do status) têm interesse em que as coisas continuem como estão. Na maior parte dos países, os sistemas de subsídios, as regulamentações e as fileiras de abastecimento estão contra o produtor que se rege pelas normas do movimento Slow (…) os métodos agrícolas actuais são claramente insustentáveis. A agricultura industrial destrói o meio ambiente. Hoje, alguns especialistas crêem que a melhor maneira de alimentar o mundo é voltar à agricultura e criação de gado mista de pequena escala, que permite um equilíbrio, respeitoso com o meio ambiente, entre colheitas e gado. Em 2003, a UE por fim acordou reformar a sua politica agrícola comum para recompensar os agricultores mais pela qualidade que pela quantidade da sua produção, assim como pela salvaguarda do meio ambiente” (por Carl Honoré em ‘Elogio de la lentitud’).
A imprensa espanhola surpreendia-se com a alta taxa da população do país, a mais elevada da Europa, que investe na compra de casa própria! Mas o que é que esperavam, quando o valor mensal de um arrendamento é idêntico ao da hipoteca a pagar ao banco?! Facilmente se encontrarão estatísticas que mostram que o peso dos gastos com a habitação no orçamento das famílias, que passou de uns 15% há umas décadas para próximo dos 50% actualmente. As casas modernas têm rendas incomportáveis para a maioria (paralelamente, observo o aumento do número de pessoas que passou a viver em auto-caravanas). A habitação é um bem essencial e, como tal, para que os cada vez mais aflitos possam ter acesso a ela, este sector devia estar sujeito a uma regulação bastante mais estrita.
O consagrado escritor Amin Maalouf disse que a geração jovem de hoje será provavelmente a primeira da história que vai viver em piores condições que a anterior. Agora digam lá, qual é a ‘lógica’ mais lógica?! A máxima capitalista que beneficia poucos e grandes, ou uma lógica mais social e justa que tente não excluir e não deixar ninguém com a corda na garganta!?
Designado por ‘último paraíso terrestre’, o caso do Butão é exemplar: “o governo deste ‘país das plantas medicinais’ desenvolveu e aplicou o conceito inovador de ‘Felicidade Interna Bruta’, por considerar que o bem-estar emocional da população é mais importante do que o desenvolvimento material…”, escrevi na crónica 33 (de 14.09.10). A China, por sua vez, que não tem sido nenhum exemplo, anunciou recentemente que o objectivo das novas políticas do governo para os próximos 5 anos é o de reduzir a diferença entre ricos e pobres. Vamos lá a ver se o grande dragão asiático dá uma lição ao Ocidente.
Se é verdade que existe uma relação tão directa entre riqueza, consumo e poluição (ver crónica 17, de 19.07.09), que domina a sociedade ocidental actual, então, também a cada pessoa devia estar associada uma quota de consumo/poluição (tal como existe a nível de certos países, no caso da poluição, no caso da produção de leite ou cereais, ou no caso das capturas piscícolas), dentro da qual estaria permito ‘respirar’ a qualquer um, independentemente dos seus rendimentos. No caso dos impostos e dos preços dos serviços básicos (água, luz, habitação, etc.) é necessário criar uma ‘bolsa de ar’, um escalão mínimo dentro do qual nenhum cidadão (desempregados, reformados, trabalhadores temporários, os que auferem salários mínimos) tenha que agonizar para se manter à tona de água. Para lá daquela quota, a cobrança de bens e serviços (sobretudo se resultam poluentes) far-se-ia numa proporcionalidade crescente. Quem mais consome/polui, mais paga! O problema é que isto vai contra toda a lógica capitalista de maximização do consumo: quanto mais consomes mais barato te sai o preço unitário. A própria UE apoiava, através da sua politica agrícola comum, as explorações agrícolas em função da sua produtividade, beneficiando os maiores (porque mais facilmente diluem os custos unitários). Ora, se já são grandes e produtivas para que é que necessitam de apoios?! “… a indústria alimentar à escala global está estruturada para favorecer uma produção muito abundante e a baixo custo, e os fabricantes de alimentos, as empresas de transporte de longa distância, os gigantes do fast food, as empresas publicitárias, os supermercados e os produtores industriais (os defensores do status) têm interesse em que as coisas continuem como estão. Na maior parte dos países, os sistemas de subsídios, as regulamentações e as fileiras de abastecimento estão contra o produtor que se rege pelas normas do movimento Slow (…) os métodos agrícolas actuais são claramente insustentáveis. A agricultura industrial destrói o meio ambiente. Hoje, alguns especialistas crêem que a melhor maneira de alimentar o mundo é voltar à agricultura e criação de gado mista de pequena escala, que permite um equilíbrio, respeitoso com o meio ambiente, entre colheitas e gado. Em 2003, a UE por fim acordou reformar a sua politica agrícola comum para recompensar os agricultores mais pela qualidade que pela quantidade da sua produção, assim como pela salvaguarda do meio ambiente” (por Carl Honoré em ‘Elogio de la lentitud’).
A imprensa espanhola surpreendia-se com a alta taxa da população do país, a mais elevada da Europa, que investe na compra de casa própria! Mas o que é que esperavam, quando o valor mensal de um arrendamento é idêntico ao da hipoteca a pagar ao banco?! Facilmente se encontrarão estatísticas que mostram que o peso dos gastos com a habitação no orçamento das famílias, que passou de uns 15% há umas décadas para próximo dos 50% actualmente. As casas modernas têm rendas incomportáveis para a maioria (paralelamente, observo o aumento do número de pessoas que passou a viver em auto-caravanas). A habitação é um bem essencial e, como tal, para que os cada vez mais aflitos possam ter acesso a ela, este sector devia estar sujeito a uma regulação bastante mais estrita.
O consagrado escritor Amin Maalouf disse que a geração jovem de hoje será provavelmente a primeira da história que vai viver em piores condições que a anterior. Agora digam lá, qual é a ‘lógica’ mais lógica?! A máxima capitalista que beneficia poucos e grandes, ou uma lógica mais social e justa que tente não excluir e não deixar ninguém com a corda na garganta!?
Designado por ‘último paraíso terrestre’, o caso do Butão é exemplar: “o governo deste ‘país das plantas medicinais’ desenvolveu e aplicou o conceito inovador de ‘Felicidade Interna Bruta’, por considerar que o bem-estar emocional da população é mais importante do que o desenvolvimento material…”, escrevi na crónica 33 (de 14.09.10). A China, por sua vez, que não tem sido nenhum exemplo, anunciou recentemente que o objectivo das novas políticas do governo para os próximos 5 anos é o de reduzir a diferença entre ricos e pobres. Vamos lá a ver se o grande dragão asiático dá uma lição ao Ocidente.
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quarta-feira, 6 de outubro de 2010
A nova pobreza - Crónica 36
Ser pobre em França pode ser enganador para um português, já que a fasquia está colocada cerca dos 900euros/mês (o salário mínimo), mas não é menos certo que por todo o lado cresce o número de pessoas com ‘a corda na garganta’. Os frios números de Setembro disseram que nos Estados Unidos da América 14% da população (uns 35 milhões de habitantes) está a viver num nível de pobreza (recebe menos de 10.800 USD/ano). Em França, 13% da população (8 milhões) vive no limiar da pobreza. Em Espanha, o desemprego chegou aos 21% (mais de 4,5 milhões de pessoas); ali, fala-se de uma geração perdida, os ‘Ninis’ (não estudam e não trabalham, e um de cada 4 deles nem deseja fazê-lo), que representam 14% da população juvenil (15-24 anos). Roménia e Bulgária são outros dos países europeus onde o desemprego atinge cifras da ordem dos 20%...
Passados tantos séculos, parece que as sociedades modernas continuam a padecer dos males que afectavam a época dos imperadores romanos, do séc. II d.C.: “Parte dos nossos males provém de que há demasiados homens vergonhosamente ricos ou desesperadamente pobres” (Marguerite Yourcenar, em ‘Memórias de Adriano’). E isto é tão básico que me custa compreender que apenas aqueles que têm uma preocupação extrema com a acumulação de dinheiro (e de prestigio petulante), como empresários e políticos, não vêem! Alguém me respondeu que sempre existirão ricos e pobres: de acordo, não contesto, até porque existem pessoas que fazem questão de viver com pouco ou de não trabalhar! A dúvida coloca-se na amplitude de tal diferença, no exagero da diferença prática entre aqueles que vivem ‘demasiadamente bem’ e desperdiçam muito, e os que se ‘matam’ a trabalhar para se manterem apenas no limiar da sobrevivência!
Discordo de filosofias ‘anti-despedimento’ de esquerda (porque nem o Estado nem um empresário com iniciativa têm obrigação de alimentar um empregado que não quer trabalhar ou que o faz mal (e são muitos). Desconfio dos designados ‘direitos adquiridos’ porque isso gera acomodamento (e, em consequência, baixas produtividades e qualidade de serviço inaceitáveis e asfixiantes) e porque necessitamos manter alguma capacidade de adaptação numa sociedade em permanente mudança. Mas também penso que classe politica e sector administrativo do Estado devem ser mais responsabilizados, e remunerados em função de uma produtividade, mais qualitativa que quantitativa, de acordo com uma lógica mista (uma base fixa e uma parte variável em função dos resultados).
Os dirigentes políticos fazem questão de nos fazer crer no seu ‘patriotismo’ (uma palavra com cada vez menos significado), e de pousar a mão no peito quando escutam o hino nacional…. O Presidente Zapatero agradeceu o “esforço dos espanhóis” perante a crise e medidas paliativas do governo que lhes retiram benefícios e lhes agravam a vida. Ele recebe mais de 71.000Euros/ano (não é que seja demasiado, mas nalgumas comunidades, o rico é o que ganha mais de 80.000Euros/ano – será coincidência?!), fora os extras! Perante um país em grave crise, as elevadas percentagens de desemprego, e a quantidade de famílias a lutar pela sobrevivência, não seria elementar que esses mesmos políticos fossem os primeiros a dar o exemplo, pondo em prática o dito patriotismo, decidindo reduzir as suas regalias? Uma questão de princípio! Como se pode aceitar que os dirigentes máximos de um país decidam reduzir os parcos benefícios de alguns (refiro-me ao aumento da idade de reforma, e redução de 5% de alguns salários, no caso espanhol), sem tocar nos seus próprios (a retribuição dos políticos apenas foi ‘congelada’)?
Passados tantos séculos, parece que as sociedades modernas continuam a padecer dos males que afectavam a época dos imperadores romanos, do séc. II d.C.: “Parte dos nossos males provém de que há demasiados homens vergonhosamente ricos ou desesperadamente pobres” (Marguerite Yourcenar, em ‘Memórias de Adriano’). E isto é tão básico que me custa compreender que apenas aqueles que têm uma preocupação extrema com a acumulação de dinheiro (e de prestigio petulante), como empresários e políticos, não vêem! Alguém me respondeu que sempre existirão ricos e pobres: de acordo, não contesto, até porque existem pessoas que fazem questão de viver com pouco ou de não trabalhar! A dúvida coloca-se na amplitude de tal diferença, no exagero da diferença prática entre aqueles que vivem ‘demasiadamente bem’ e desperdiçam muito, e os que se ‘matam’ a trabalhar para se manterem apenas no limiar da sobrevivência!
Discordo de filosofias ‘anti-despedimento’ de esquerda (porque nem o Estado nem um empresário com iniciativa têm obrigação de alimentar um empregado que não quer trabalhar ou que o faz mal (e são muitos). Desconfio dos designados ‘direitos adquiridos’ porque isso gera acomodamento (e, em consequência, baixas produtividades e qualidade de serviço inaceitáveis e asfixiantes) e porque necessitamos manter alguma capacidade de adaptação numa sociedade em permanente mudança. Mas também penso que classe politica e sector administrativo do Estado devem ser mais responsabilizados, e remunerados em função de uma produtividade, mais qualitativa que quantitativa, de acordo com uma lógica mista (uma base fixa e uma parte variável em função dos resultados).
Os dirigentes políticos fazem questão de nos fazer crer no seu ‘patriotismo’ (uma palavra com cada vez menos significado), e de pousar a mão no peito quando escutam o hino nacional…. O Presidente Zapatero agradeceu o “esforço dos espanhóis” perante a crise e medidas paliativas do governo que lhes retiram benefícios e lhes agravam a vida. Ele recebe mais de 71.000Euros/ano (não é que seja demasiado, mas nalgumas comunidades, o rico é o que ganha mais de 80.000Euros/ano – será coincidência?!), fora os extras! Perante um país em grave crise, as elevadas percentagens de desemprego, e a quantidade de famílias a lutar pela sobrevivência, não seria elementar que esses mesmos políticos fossem os primeiros a dar o exemplo, pondo em prática o dito patriotismo, decidindo reduzir as suas regalias? Uma questão de princípio! Como se pode aceitar que os dirigentes máximos de um país decidam reduzir os parcos benefícios de alguns (refiro-me ao aumento da idade de reforma, e redução de 5% de alguns salários, no caso espanhol), sem tocar nos seus próprios (a retribuição dos políticos apenas foi ‘congelada’)?
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
O valor da paciência - Crónica 35
Alex, referindo-se ao ‘valor da paciência’ (programa ‘tarde em directo’, CNN+, 06.07.10), recordou um estudo de Goleman no qual várias crianças eram ‘obrigadas’ a esperar, para obter um caramelo; algumas não tinham paciência suficiente para esperar; as que o fizeram obtiveram a recompensa mais tarde; deste modo revelaram-se mais ‘maduras’, mais tolerantes e sociáveis, e como tal, possuidoras de um coeficiente emocional mais elevado. Com isto pretendia-se demonstrar que para obter certas coisas, há que merecê-las, e também justificar a imaturidade da moderna sociedade de consumo, como causa da actual crise financeira internacional: “… utilizaram dinheiro que não tinham para comprar coisas que não necessitavam e que não valiam o preço que pediam por elas…”.
Mark Twain tinha uma excelente anedota que resumia os anos da sua ‘maturação’: «Que ignorante era o meu pai quando eu tinha 14 anos. Mal podia suportá-lo. Mas quando cumpri os 21, fiquei assombrado ao descobrir o muito que ele tinha aprendido nesses sete anos».
Nos últimos anos assistimos a crianças de 5 a 11 anos de idade a baterem recordes de precocidade em provas de maratona. Em 2007, Zhang Muyuan, um menino chinês de 9 anos, tornou-se no montanhista mais jovem a coroar o cume do Kilimanjaro (5.896m. de altitude), na Tanzânia, se bem que para entrar no parque nacional os pais tiveram que mentir sobre a sua idade… O britânico Michael Perham (14 anos), bateu o recorde de precocidade de cruzar o oceano Atlântico navegando em solitário (necessitou de 46 dias para ir de Gibraltar à ilha de Antigua, nas Caraíbas). Com 13 anos, Jordan Romero, dos EUA, converteu-se no mais jovem escalador do Everest – a sua ambição nasceu aos 9 anos; com 10, subiu o Kilimanjaro, e com 11 o McKinley no Alasca (6.194 m) e o Aconcágua nos Andes (6.969 m); nascido em 1996, Jordan mantêm o plano de coroar os chamados ‘sete cumes’ dos sete continentes. Na equipa que o acompanhou estavam o seu pai, especialista em medicina e fisiologia, a sua madrasta e treinadora, e três sherpas. O adolescente explicou: “faço isto um pouco por mim, para fazer alguma coisa grande” (in www.marca.com/mas_deportes/otros_deportes.html). Este verão, em busca de um novo recorde, uma adolescente holandesa de 14 anos, partia num veleiro para uma volta ao mundo em solitário, com a autorização dos pais e o deferimento dos tribunais!!! Esperemos que não lhe suceda nada de mau…
Estas actividades, aparentemente saudáveis, são, do ponto de vista da ética dos pais das crianças, no mínimo questionáveis. É que, no afã da recompensa imediata, as pessoas esquecem-se que a maturidade se pode aproximar mais dos estados de felicidade.
Como escreveu o montanhista francês Lionel Terray, “Apenas uma longa experiência, muita observação, registada não apenas na memória, mas também no subconsciente, permite que alguns montanhistas adquiram uma espécie de instinto”. Aqui, o instinto significa também ‘maturidade’… A ciência confirma: Eduardo Punset citou o neurólogo mexicano Ranulfo Romo - «A mim, francamente, o que mais gosto não é falar perante um auditório nem tão pouco escrever os meus artigos. Gosto quando posso deter-me um instante e viver no interior do meu cérebro: é como um passeio no qual posso visitar os amigos (…) detectar detalhes (…) ver-me a mim mesmo, recuperar a vida, recreá-la…» -, para explicar que “Estas expectativas, do ponto de vista neurofisiológico, só pode cumpri-las um cérebro maduro. De aí a demonstrar – como fizeram distinguidos psiquiatras – que a maturidade é compatível com níveis de felicidade mais elevados que na juventude, não há mais que um passo que a ciência está a ponto de dar”.
Mark Twain tinha uma excelente anedota que resumia os anos da sua ‘maturação’: «Que ignorante era o meu pai quando eu tinha 14 anos. Mal podia suportá-lo. Mas quando cumpri os 21, fiquei assombrado ao descobrir o muito que ele tinha aprendido nesses sete anos».
Nos últimos anos assistimos a crianças de 5 a 11 anos de idade a baterem recordes de precocidade em provas de maratona. Em 2007, Zhang Muyuan, um menino chinês de 9 anos, tornou-se no montanhista mais jovem a coroar o cume do Kilimanjaro (5.896m. de altitude), na Tanzânia, se bem que para entrar no parque nacional os pais tiveram que mentir sobre a sua idade… O britânico Michael Perham (14 anos), bateu o recorde de precocidade de cruzar o oceano Atlântico navegando em solitário (necessitou de 46 dias para ir de Gibraltar à ilha de Antigua, nas Caraíbas). Com 13 anos, Jordan Romero, dos EUA, converteu-se no mais jovem escalador do Everest – a sua ambição nasceu aos 9 anos; com 10, subiu o Kilimanjaro, e com 11 o McKinley no Alasca (6.194 m) e o Aconcágua nos Andes (6.969 m); nascido em 1996, Jordan mantêm o plano de coroar os chamados ‘sete cumes’ dos sete continentes. Na equipa que o acompanhou estavam o seu pai, especialista em medicina e fisiologia, a sua madrasta e treinadora, e três sherpas. O adolescente explicou: “faço isto um pouco por mim, para fazer alguma coisa grande” (in www.marca.com/mas_deportes/otros_deportes.html). Este verão, em busca de um novo recorde, uma adolescente holandesa de 14 anos, partia num veleiro para uma volta ao mundo em solitário, com a autorização dos pais e o deferimento dos tribunais!!! Esperemos que não lhe suceda nada de mau…
Estas actividades, aparentemente saudáveis, são, do ponto de vista da ética dos pais das crianças, no mínimo questionáveis. É que, no afã da recompensa imediata, as pessoas esquecem-se que a maturidade se pode aproximar mais dos estados de felicidade.
Como escreveu o montanhista francês Lionel Terray, “Apenas uma longa experiência, muita observação, registada não apenas na memória, mas também no subconsciente, permite que alguns montanhistas adquiram uma espécie de instinto”. Aqui, o instinto significa também ‘maturidade’… A ciência confirma: Eduardo Punset citou o neurólogo mexicano Ranulfo Romo - «A mim, francamente, o que mais gosto não é falar perante um auditório nem tão pouco escrever os meus artigos. Gosto quando posso deter-me um instante e viver no interior do meu cérebro: é como um passeio no qual posso visitar os amigos (…) detectar detalhes (…) ver-me a mim mesmo, recuperar a vida, recreá-la…» -, para explicar que “Estas expectativas, do ponto de vista neurofisiológico, só pode cumpri-las um cérebro maduro. De aí a demonstrar – como fizeram distinguidos psiquiatras – que a maturidade é compatível com níveis de felicidade mais elevados que na juventude, não há mais que um passo que a ciência está a ponto de dar”.
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
As maiores tolices do mundo - Crónica 34
O mundo está cheio de ‘tolices’! Sempre há alguma coisa que parece tola aos olhos de alguém. O problema de definir o que é uma ‘tolice’, é que não há uma medida exacta para o senso comum. Por vezes trata-se quase de uma questão de gostos, ou seja, reduz-se a avaliações pessoais. E para os gostos estão as cores! No entanto, há atitudes e comportamentos que são alvo de comentários classificativos de muitas pessoas, oriundas de vários sectores da sociedade. Como tal, aspiram a alcançar o estatuto de ‘grande tolice’. Umas são engraçadas e ‘saudáveis’, outras dão ‘pena’ ou produzem a ‘vergonha alheia’. Há as simplesmente ‘inócuas’, e as perfeitamente ‘injustificáveis’. As piores, são as tolices ‘condenáveis’, porque prejudicam moral ou materialmente a terceiros.
Desde as macacadas do público frente às câmaras, no Tour de France ou na Vuelta (o homem-diabo e aqueles que correm ao lado dos ciclistas, gritando-lhes aos ouvidos); ao wrestling. De qualquer intervenção da Paris Hilton, ao charuto do Isaltino de Morais (o exemplo clássico da pessoa que crê ter alcançado um ‘status’ do qual certos adereços fazem obrigatoriamente parte como símbolo); do mau gosto artístico da Lady Gagá, com ou sem 8 galardões MTV (quando se promoveu em Portugal seguramente desconhecia o significado de ‘estar gagá’!), à desculpa da ‘tradição’ para manter a ‘posse de armas’, nos EUA, ou para dar continuidade a espectáculos como os ‘touros de morte’, em Espanha e Portugal (se as tradições se tornam imorais, fora de moda, ou injustificadas, mudam-se!); e aos jogos de computador das novas consolas, tipo Wii, que não são totalmente inofensivos porque podem moldar a atitude de toda uma geração de jovens; …
Outras tolices, surgem sob a forma de perguntas: porque é que as apresentadoras de TV se sentam com mini-sáia frente à câmara, obrigando-se a cruzar as pernas de forma tão desconfortável?; ou ‘porque é que os pés dos pinguins não congelam?’ (esta deu mesmo origem a um livro).
Os exemplos são tantos e tão ricos que resolvi fazer do tema a base da minha actual tentativa de completar um livro. Nele, falo de alguns recordes de precocidade batidos por crianças de 5 a 11 anos de idade, em provas de maratona, dos excêntricos recordes do Guiness, e de concursos populares como o ‘lançamento da bota’, o ‘lançamento de legumes com zarabatana’, o campeonato de ‘comedores de urtigas’, a ‘reverse running’ (corrida para trás), o do ‘homem pássaro’ ou o famoso ‘cheese rolling’…. Analiso o fenómeno do ‘balconing’ e outras histórias de azar. Os caprichos mais vergonhosos, e os escandalosos abusos de autarcas e políticos, que normalmente deixamos cair no esquecimento… Tudo coisas tolas!
Já agora, desafio-vos a que me enviem a história daquela que, na vossa opinião, consideram a ‘Maior tolice do Mundo’ (se possível com referência a data e local do acontecimento, ou meio de comunicação onde foi divulgado), para zgiraldes@hotmail.com.
Desde as macacadas do público frente às câmaras, no Tour de France ou na Vuelta (o homem-diabo e aqueles que correm ao lado dos ciclistas, gritando-lhes aos ouvidos); ao wrestling. De qualquer intervenção da Paris Hilton, ao charuto do Isaltino de Morais (o exemplo clássico da pessoa que crê ter alcançado um ‘status’ do qual certos adereços fazem obrigatoriamente parte como símbolo); do mau gosto artístico da Lady Gagá, com ou sem 8 galardões MTV (quando se promoveu em Portugal seguramente desconhecia o significado de ‘estar gagá’!), à desculpa da ‘tradição’ para manter a ‘posse de armas’, nos EUA, ou para dar continuidade a espectáculos como os ‘touros de morte’, em Espanha e Portugal (se as tradições se tornam imorais, fora de moda, ou injustificadas, mudam-se!); e aos jogos de computador das novas consolas, tipo Wii, que não são totalmente inofensivos porque podem moldar a atitude de toda uma geração de jovens; …
Outras tolices, surgem sob a forma de perguntas: porque é que as apresentadoras de TV se sentam com mini-sáia frente à câmara, obrigando-se a cruzar as pernas de forma tão desconfortável?; ou ‘porque é que os pés dos pinguins não congelam?’ (esta deu mesmo origem a um livro).
Os exemplos são tantos e tão ricos que resolvi fazer do tema a base da minha actual tentativa de completar um livro. Nele, falo de alguns recordes de precocidade batidos por crianças de 5 a 11 anos de idade, em provas de maratona, dos excêntricos recordes do Guiness, e de concursos populares como o ‘lançamento da bota’, o ‘lançamento de legumes com zarabatana’, o campeonato de ‘comedores de urtigas’, a ‘reverse running’ (corrida para trás), o do ‘homem pássaro’ ou o famoso ‘cheese rolling’…. Analiso o fenómeno do ‘balconing’ e outras histórias de azar. Os caprichos mais vergonhosos, e os escandalosos abusos de autarcas e políticos, que normalmente deixamos cair no esquecimento… Tudo coisas tolas!
Já agora, desafio-vos a que me enviem a história daquela que, na vossa opinião, consideram a ‘Maior tolice do Mundo’ (se possível com referência a data e local do acontecimento, ou meio de comunicação onde foi divulgado), para zgiraldes@hotmail.com.
terça-feira, 14 de setembro de 2010
A ilusória felicidade dos ricos - Crónica 33
Especialistas da Universidade de Princeton determinaram agora que um nível de vencimentos anual igual a 58 mil euros é aquele que permite a ‘felicidade’: segundo os ‘doutores’, um valor superior traz-nos problemas e gera stress; e valores inferiores não chegam para satisfazer certos ‘desejos’ (in Punto Rádio, 09.09.10). Segundo o ‘Índice Planeta Feliz’ de 2006 (da Fundação Nova Economia), os países ricos do norte da América e Europa apresentam os mais altos índices de felicidade -“Muito feliz”. Dinamarca e Suiça encabeçam a lista. Estudos demonstraram uma relação directa entre o nível de educação de uma população e a sua felicidade. Poderíamos intuir aqui, também, uma relação entre riqueza material e felicidade. No entanto, alguns estados insulares (ilhas das Caraíbas, Malta, Seychelles, ilhas do Pacífico), além dos Emiratos Árabes, a Nova Zelândia, a Malásia e o Butão, nem todos denominados de ‘ricos’, surgem também entre os 25 primeiros. A China apresenta um rating de “Feliz”, numa fase de extremo frenesim económico (e maior de degradação ambiental), contraditório com a tradicional prática do Tai Chi, com os ditames confucionistas e as filosofias budistas, e com o velho provérbio: “Se queres um ano de prosperidade, planta trigo. Se queres dez anos de prosperidade, planta árvores. Se queres cem anos de prosperidade, educa as pessoas”. Portugal, de acordo com o Índice referido, surge com uma população apenas “Satisfeita”, ao lado de países africanos e da Europa de Leste/ex União Soviética. Neste cantinho da Europa talvez uma minoria de uns 5% chegue a alcançar o almejado valor anual (58 mil euros), mas não será certo que os outros 95% da população activa sejam infelizes. Exemplar, é o caso do Butão: designado por ‘último paraíso terrestre’, o governo deste ‘país das plantas medicinais’ (tem 600 espécies identificadas), “desenvolveu e aplicou o conceito inovador de ‘Felicidade Interna Bruta’, por considerar que o bem-estar emocional da população é mais importante do que o desenvolvimento material… Um indicador que bem poderia servir de exemplo às sociedades ditas ‘avançadas’ do ocidente. Em 2004, o Butão tornou-se no primeiro país a banir o fumo e a venda de tabaco; a sua capital, Thimphu, é a única do mundo sem semáforos” (do meu livro ‘Os novos exploradores e a aventura dos sentidos’). O divulgador científico Eduardo Punset (em ‘Porque somos como somos’), aponta uma relação clara entre ‘desenvolvimento’ e ‘suicídio’ (que é como quem diz ‘infelicidade’): “Dizem as estatísticas que o número de suicídios entre adolescentes nas sociedades ricas triplicou na última década”. Segundo Acarin (um especialista em neurologia citado), a vida era muito mais dura no Paleolítico, do ponto de vista afectivo, «passava-se fome, a sobrevivência era difícil, fazia frio, nem sempre havia fogo… mas não havia suicídios». Os primeiros grandes antropólogos dos finais do séc. XIX corroboraram esta ideia quando «estudaram tribos que viviam como no Paleolítico e constataram que nelas o suicídio era uma prática inexistente». “Ao contrário, quanto mais ‘desenvolvida’ é uma sociedade do ponto de vista tecnológico, maior é a taxa de suicídios de adultos ou de adolescentes e maiores são também os problemas pseudo-suicídas, como a adição às drogas ou ao álcool, e as condutas autodestrutivas”. Punset mostra como a felicidade é a ausência de medo, sendo a segurança uma condição para tal. Albert Schweitzer disse, com dose de humor: “A felicidade não é mais que a soma de uma boa saúde e uma má memória”. Para o Dalai Lama, o que mais o surpreende na Humanidade são… os homens, “porque perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem o presente de tal forma que acabam por não viver nem o presente nem o futuro. E vivem como se nunca fossem morrer… e morrem como se nunca tivessem vivido”. Nos dias de hoje, felicidade para um paquistanês pode ser um prato de arroz ao final do dia; e para um religioso, um anacoreta, um budista meditativo, cujos estados de alma mal compreendemos, aquela mesma felicidade está totalmente desligada dos ganhos materiais. Recordo com saudade uma frase da minha avó: “Rico não é o que mais tem, senão o que menos necessita”. Ai, estes americanos!!!
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terça-feira, 7 de setembro de 2010
O maravilloso diccionário de Spanglish - Crónica 32
Os escandinavos, parece que nascem a falar o inglês, além da sua língua natal. Diz-se dos russos que têm muita facilidade em aprender as línguas latinas. Os franceses nunca deixam de ‘fazer boquinha’, o que afecta a sua pronúncia do inglês, mas falam! Os portugueses não estão mal, seja por necessidade ou pela tradicional abertura ao turismo (não falando dos anúncios nas vitrinas de cafés do Algarve, que dizem: temos “pomes frites” e “milk shek”). E os espanhóis? Este é um típico diálogo espanhol fazendo uso do spanglish:
- “Te gusta Róbé?”
- “Róbé!? Quien es Róbé?”
- “Róbé de Niro!”
‘Spanglish’ é um inglês espanholado ou a tentativa de um espanhol pronunciar a língua de Shakespeare (tipo o ‘portunhol’ para os portugueses). Após ‘longos e aturados anos de investigação’, compreendi o porquê de os espanhóis não falarem inglês! Aqui ficam exemplos curiosos, assim mesmo pronunciados por locutores e apresentadores de televisão:
- ái lób blú lagún = I love Blue Laggon
- bán = bank (como Barclays Bank)
- bódafôn (ou bodafão) = Vodafone
- bru-has (escreve-se brujas, significa ‘bruxas’) = Brujes (a cidade belga)
- budi = Woody (de Woody Allen ou Woodpecker)
- bé-chéler = best seller
- campo através = cross country (das corridas de bicicleta de montanha)
- colgátê = Colgate (a pasta de dentes)
- dáu iónch = Dow Jones (o índice bolsista americano)
- djãe = Yen (a moeda japonesa)
- éstin = Sting (o músico)
- estugár = Stuttgart
- fran-fur = Frankfurt
- gu-éb = web (de www.)
- issébér (no plural issébérés) = iceberg
- Iú-és-ei, iú-és-ei! = USA, USA!
- kin = King (de Burger King)
- koráibê = Kollschreiber (o jogador de ténis alemão … o pobre!)
- lái = light (de coca-cola light)
- liéchéchtãi = Liechtenstein
- mítin = meeting (no plural é ainda melhor: 'mítines'!)
- néslé = Nestlé
- õlái = online
- ón kón (ou ‘hón’, com o ‘h’ arranhando a garganta, como um ‘r’, à holandesa) = Hong Kong
- péssi = Pepsi
- pêujót = Peugeot
- pi ni = pic nic
- pin pon = ping pong
- quis-buhrrel = Kitzbuehel (região na Austria)
- renól = Renault
- róbé = Robert de Niro
- sang-uík = sandwich
- sáuwér = software
- super éstronguér = super strong (no anúncio da Quatro)
- uán-car-lós (ler ‘Juan Carlos’, como o rei) = one car lost
- uól éstrit iournal = Wall Street Journal
- uikilís = Wikileaks (a famigerada página da internet)
E a última pérola... clin istbud = Clint Eastwood!!!
Eu voto na ‘issébérés’! Como pronunciarão… boogie-woogie !?
- “Te gusta Róbé?”
- “Róbé!? Quien es Róbé?”
- “Róbé de Niro!”
‘Spanglish’ é um inglês espanholado ou a tentativa de um espanhol pronunciar a língua de Shakespeare (tipo o ‘portunhol’ para os portugueses). Após ‘longos e aturados anos de investigação’, compreendi o porquê de os espanhóis não falarem inglês! Aqui ficam exemplos curiosos, assim mesmo pronunciados por locutores e apresentadores de televisão:
- ái lób blú lagún = I love Blue Laggon
- bán = bank (como Barclays Bank)
- bódafôn (ou bodafão) = Vodafone
- bru-has (escreve-se brujas, significa ‘bruxas’) = Brujes (a cidade belga)
- budi = Woody (de Woody Allen ou Woodpecker)
- bé-chéler = best seller
- campo através = cross country (das corridas de bicicleta de montanha)
- colgátê = Colgate (a pasta de dentes)
- dáu iónch = Dow Jones (o índice bolsista americano)
- djãe = Yen (a moeda japonesa)
- éstin = Sting (o músico)
- estugár = Stuttgart
- fran-fur = Frankfurt
- gu-éb = web (de www.)
- issébér (no plural issébérés) = iceberg
- Iú-és-ei, iú-és-ei! = USA, USA!
- kin = King (de Burger King)
- koráibê = Kollschreiber (o jogador de ténis alemão … o pobre!)
- lái = light (de coca-cola light)
- liéchéchtãi = Liechtenstein
- mítin = meeting (no plural é ainda melhor: 'mítines'!)
- néslé = Nestlé
- õlái = online
- ón kón (ou ‘hón’, com o ‘h’ arranhando a garganta, como um ‘r’, à holandesa) = Hong Kong
- péssi = Pepsi
- pêujót = Peugeot
- pi ni = pic nic
- pin pon = ping pong
- quis-buhrrel = Kitzbuehel (região na Austria)
- renól = Renault
- róbé = Robert de Niro
- sang-uík = sandwich
- sáuwér = software
- super éstronguér = super strong (no anúncio da Quatro)
- uán-car-lós (ler ‘Juan Carlos’, como o rei) = one car lost
- uól éstrit iournal = Wall Street Journal
- uikilís = Wikileaks (a famigerada página da internet)
E a última pérola... clin istbud = Clint Eastwood!!!
Eu voto na ‘issébérés’! Como pronunciarão… boogie-woogie !?
domingo, 8 de agosto de 2010
O ‘Estatut’ catalão - Crónica 31
O presidente Zapatero deixa antever uma aproximação ‘perigosa’ às intenções dos governantes da Catalunha. Esta Comunidade Autónoma quer ver aceite a palavra ‘nação’ no texto de reforma do seu ‘estatuto’. Os juízes deliberaram que a Constituição não o permite. Agora até já se fala em “compensar os danos provocados pela decisão do tribunal”!?! O que está claro, são as intenções dos dirigentes catalães: a independência. Uma parte da população da Catalunha (cerca de 16%) está de acordo. Mas, em vez das esperanças que dá Zapatero, seria mais importante explicar aos catalães o que é que eles teriam a ganhar com uma eventual independência. Primeiro: a própria Espanha não tem nada a ganhar em perder a sua comunidade mais próspera, antes pelo contrário - tal facto constituiria um perigoso precedente ao alimentar as ambições de independência de outras comunidades (País Basco, Andaluzia ou Galiza). Em segundo lugar, sendo a Catalunha uma parte de Espanha, o lógico seria que se falasse de um referendo a nível nacional em vez de a nível da Comunidade Autónoma, pois a independência desta diz respeito não apenas à vontade desse conjunto de pessoas mas sim a todos os cidadãos de um país, do qual essa Comunidade faz parte.
Em relação às supostas vantagens para os catalães, isso é algo que urge desmistificar. De facto, os cidadãos daquela Comunidade não têm absolutamente nada a ganhar em ser uma nação independente, mas têm bastante a perder. Numa era em que o planeta é, cada vez mais, ‘um só’, em que os países e mercados tendem a unir-se procurando o alargamento das suas zonas económicas (União Europeia, NAFTA, …) e em que se questiona a viabilidade de pequenos países (com mercados internos de reduzida dimensão), bem como os elevados custos de manter administrações regionais, simplesmente não faz sentido pensar em divisões territoriais baseadas em nacionalismos bacocos ou utilizando diferenças de língua para camuflar interesses minoritários. Os únicos que verdadeiramente têm a ganhar com a eventual independência da Catalunha são uma meia dúzia de políticos que se vão forrar com o controle de maiores orçamentos e um alargamento das suas esferas de poder. E são estes quem, de facto, estão a lutar por este processo (outros deixam-se mover por arrasto). Ainda por cima, cometendo a deslealdade de se aproveitarem de um período de crise global em que a população, naturalmente, está descontente e, por ignorância, acredita que a independência a pode retirar de tal aperto. Para a população catalã em geral: '0' vantagens. Quando muito algum aumento artificial de 2 ou 3 euros nos salários, a curto prazo, e a ilusão de possuir uma identidade própria… Vergonha, senhor José Montilla e seus lacaios.
Em relação às supostas vantagens para os catalães, isso é algo que urge desmistificar. De facto, os cidadãos daquela Comunidade não têm absolutamente nada a ganhar em ser uma nação independente, mas têm bastante a perder. Numa era em que o planeta é, cada vez mais, ‘um só’, em que os países e mercados tendem a unir-se procurando o alargamento das suas zonas económicas (União Europeia, NAFTA, …) e em que se questiona a viabilidade de pequenos países (com mercados internos de reduzida dimensão), bem como os elevados custos de manter administrações regionais, simplesmente não faz sentido pensar em divisões territoriais baseadas em nacionalismos bacocos ou utilizando diferenças de língua para camuflar interesses minoritários. Os únicos que verdadeiramente têm a ganhar com a eventual independência da Catalunha são uma meia dúzia de políticos que se vão forrar com o controle de maiores orçamentos e um alargamento das suas esferas de poder. E são estes quem, de facto, estão a lutar por este processo (outros deixam-se mover por arrasto). Ainda por cima, cometendo a deslealdade de se aproveitarem de um período de crise global em que a população, naturalmente, está descontente e, por ignorância, acredita que a independência a pode retirar de tal aperto. Para a população catalã em geral: '0' vantagens. Quando muito algum aumento artificial de 2 ou 3 euros nos salários, a curto prazo, e a ilusão de possuir uma identidade própria… Vergonha, senhor José Montilla e seus lacaios.
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quinta-feira, 5 de agosto de 2010
Sibéria com altas temperaturas... - Crónica 30
A Rússia sofre as piores secas dos últimos 130 anos, com temperaturas de 40º. O calor arruína uma área de cultura idêntica à superfície de Portugal. “As previsões indicam que os impactos das alterações climáticas aumentarão em muitos lugares e os fenómenos extremos serão mais frequentes”, assegura Ahira Sánchez-Lugo, de Porto Rico, cientista da Administração para a Atmosfera e Oceanos dos EUA (NOAA). O mês de Junho foi o mais quente desde que se começaram a tomar registos globais, em 1880. Levamos 304 meses consecutivos com temperaturas globais acima da média do séc. XX, revelam as análises, e 2010 está a caminho de se converter no ano mais quente da história…
À mesma conclusão chegou o climatólogo James Hansen, do Instituto Goddard para Estudos Espaciais da NASA (adaptado de ‘El Mundo’, 25.07.10).
Com a seca vieram os incêndios. No inicio de Agosto, contaram-se mais 600 incêndios que provocaram a morte a 40 pessoas e a evacuação de 4.000. A área ardida equivale à superfície de … Portugal!
A Rússia continua a possuir a maior extensao de floresta do planeta, com 8,1 milhoes de km2, mas, segundo a ONG Global Forest Watch, apenas 9% (289 milhoes de ha) das áreas florestais deste país permanecem intactas (antes dos fogos).
(foto: EPA)
À mesma conclusão chegou o climatólogo James Hansen, do Instituto Goddard para Estudos Espaciais da NASA (adaptado de ‘El Mundo’, 25.07.10).
Com a seca vieram os incêndios. No inicio de Agosto, contaram-se mais 600 incêndios que provocaram a morte a 40 pessoas e a evacuação de 4.000. A área ardida equivale à superfície de … Portugal!
A Rússia continua a possuir a maior extensao de floresta do planeta, com 8,1 milhoes de km2, mas, segundo a ONG Global Forest Watch, apenas 9% (289 milhoes de ha) das áreas florestais deste país permanecem intactas (antes dos fogos).
(foto: EPA)
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sábado, 3 de julho de 2010
Cépticos, ignorantes e o impacto no Planeta - Crónica 29
Na Crónica 23 (27.04.10), ‘Ambição e Impacto do Homem no Planeta’, escrevi que a WWF previu (em Março deste ano) que “se continuamos com este ritmo de consumo, em 2030 necessitamos de 2 planetas”. Mas, segundo o programa ‘Planeta Terra’ (21.Jun.10 no canal espanhol ‘La 2’), se toda a população do mundo vivesse como vive a população dos EUA actualmente, necessitariamos, agora, dos recursos de 3 planetas! O mesmo programa dizia também que há 50 anos o mundo tinha 5.000 grandes barragens e hoje tem 45.000! Prevê-se agora que a população mundial em 2050 chegue a 9 biliões. Actualmente são 6 biliões e metade dela vive com menos de 2 dólares/dia! Um consultor dizia que ‘podíamos’ explorar reservas de petróleo no Alaska sem perturbar a maior migração do mundo (a dos 3 milhões de caribus pela tundra ártica)… Um professor universitário, um cientista, um conservacionista, e o próprio naturalista britânico David Attenborough, discordavam, opinando que o benefício não compensaria o dano. Um deles afirmou: “É hora de ignorar os escépticos” (os que não acreditam que o Homem está a destruir o planeta) e avançar com urgentes medidas de ‘conservação’…
Recordo que 2009 foi o ano em que as catástrofes naturais mais pessoas mataram: 600.000. No que levamos de 2010, registei 25 ocorrências que causaram a morte a quase 202 mil pessoas. No dia 27 de Junho, o José Rodrigues dos Santos, noticiou na RTP1 que “cientistas prevêm que 2010 será o ano mais quente de que há registo”.
Mas, digo eu, alguns daqueles ‘cépticos’ não o são de verdade. São, sim, pessoas com interesses diferentes ou representantes delas (como o consultor): interesses económicos, que produzam benefícios pessoais no presente imediato!
Junto a estes dados actuais a recordação de uma carta que escrevi ao Presidente da Câmara Municipal de Portimão, em finais dos anos 90, ‘reclamando’ do desmesurado avanço do betão naquela cidade e do ‘esquecimento’ de prever alguns espaços verdes nesse processo. O Sr. Presidente não tardou a enviar-me uma revista do município cheia de fotografias de relva e flores coloridas … Para ele, ‘espaços verdes’ eram os ajardinados, incluindo os dos separadores de vias rodoviárias, como o dos bonitos loendros tricolor da via do Infante! Deu-me vontade de rir … e depois, de chorar! Continuo a surpreender-me com a ‘falta de visão’ demonstrada pelos nossos ‘dirigentes’, e a ideia que nos dão de serem sempre os últimos a ter conhecimento e a adoptar medidas progressistas (como as que surgem no campo da ecología e ‘conservação’) se estas não se puderem converter em benefícios económicos no curto prazo. As ciclovias, por exemplo, chegaram tímidamente a Portugal quando o resto da Europa, a Austrália e outros, já estavam inundados delas.
No ‘velho continente’, se quisermos encontrar vestígios da floresta original europeia, onde ainda vivam alguns dos grandes mamíferos selvagens autoctones, como bisontes, resta-nos o diminuto Parque Nacional Bialowieza (com carvalhos de 40 m de altura, como o ‘Tzar oak’ de mais de 800 anos), repartido entre a Polónia (105 km2) e a Bielorússia (876 km2) – as áreas correspondem apenas à parte considerada ‘Património da Humanidade’ e ‘Reserva da Biosfera’ (o nome Bialowieza, corresponde à parte polaca).
Fotos (dunas no deserto da Namibia; duna 45, a mais alta)
Recordo que 2009 foi o ano em que as catástrofes naturais mais pessoas mataram: 600.000. No que levamos de 2010, registei 25 ocorrências que causaram a morte a quase 202 mil pessoas. No dia 27 de Junho, o José Rodrigues dos Santos, noticiou na RTP1 que “cientistas prevêm que 2010 será o ano mais quente de que há registo”.
Mas, digo eu, alguns daqueles ‘cépticos’ não o são de verdade. São, sim, pessoas com interesses diferentes ou representantes delas (como o consultor): interesses económicos, que produzam benefícios pessoais no presente imediato!
Junto a estes dados actuais a recordação de uma carta que escrevi ao Presidente da Câmara Municipal de Portimão, em finais dos anos 90, ‘reclamando’ do desmesurado avanço do betão naquela cidade e do ‘esquecimento’ de prever alguns espaços verdes nesse processo. O Sr. Presidente não tardou a enviar-me uma revista do município cheia de fotografias de relva e flores coloridas … Para ele, ‘espaços verdes’ eram os ajardinados, incluindo os dos separadores de vias rodoviárias, como o dos bonitos loendros tricolor da via do Infante! Deu-me vontade de rir … e depois, de chorar! Continuo a surpreender-me com a ‘falta de visão’ demonstrada pelos nossos ‘dirigentes’, e a ideia que nos dão de serem sempre os últimos a ter conhecimento e a adoptar medidas progressistas (como as que surgem no campo da ecología e ‘conservação’) se estas não se puderem converter em benefícios económicos no curto prazo. As ciclovias, por exemplo, chegaram tímidamente a Portugal quando o resto da Europa, a Austrália e outros, já estavam inundados delas.
No ‘velho continente’, se quisermos encontrar vestígios da floresta original europeia, onde ainda vivam alguns dos grandes mamíferos selvagens autoctones, como bisontes, resta-nos o diminuto Parque Nacional Bialowieza (com carvalhos de 40 m de altura, como o ‘Tzar oak’ de mais de 800 anos), repartido entre a Polónia (105 km2) e a Bielorússia (876 km2) – as áreas correspondem apenas à parte considerada ‘Património da Humanidade’ e ‘Reserva da Biosfera’ (o nome Bialowieza, corresponde à parte polaca).
Fotos (dunas no deserto da Namibia; duna 45, a mais alta)
sexta-feira, 18 de junho de 2010
Stress no supermercado - Crónica 28
O momento de pagar a conta do supermercado é como uma competição: a menina da caixa a passar os produtos pelo leitor de código de barras e eu a tentar metê-los no saco de plástico … (ou de pano, no esforço para reduzir a quantidade de plásticos em circulação)! Eu perco sempre! Levo mesmo umas ‘cabazadas’. Já só tento ter 2 ou 3 produtos dentro da bolsa quando a menina me diz – São 21 euros e 73 … Mesmo assim por vezes falho rotundamente, porque quando a menina me diz o valor eu ainda estou a humedecer a ponta dos dedos para tentar abrir o saco… Creio já ter ouvido uma história semelhante numa crónica de rádio, talvez do Nuno Markl. Assim, sei que somos vários com o mesmo problema… Agora, numa tentativa de reduzir o stress provocado por aquela urgência desnecessária de abrir os sacos de plástico antes que a menina conclua a conta, adoptei uma nova postura… Termino de colocar calmamente os produtos na bolsa e só depois lhe estendo o dinheiro, como quem diz “não precisavas de fazer a conta a toda a velocidade”.
Mas o ‘stress’ não acabou ali. Quando chego a casa tento apanhar aquela fita vermelha para abrir fácilmente um pacote de bolachas … Impossivel! Mesmo para quem tem unhas. É como se a fita estivesse ali apenas para enfeitar. A certeza que sempre me indigna é a de que o dono da fábrica seguramente não come das suas próprias bolachas… A solução expedita consiste em atravessar uma faca de gume entre duas bolachas e ignorar a fita vermelha… Por vezes os ditos ‘abre fácil’ conseguem ser das maiores fontes de stress!!!
Acabo de ser operado ao joelho em Sevilha e, como tal, vou estar umas boas semanas longe do 'stress' do supermercado!
Mas o ‘stress’ não acabou ali. Quando chego a casa tento apanhar aquela fita vermelha para abrir fácilmente um pacote de bolachas … Impossivel! Mesmo para quem tem unhas. É como se a fita estivesse ali apenas para enfeitar. A certeza que sempre me indigna é a de que o dono da fábrica seguramente não come das suas próprias bolachas… A solução expedita consiste em atravessar uma faca de gume entre duas bolachas e ignorar a fita vermelha… Por vezes os ditos ‘abre fácil’ conseguem ser das maiores fontes de stress!!!
Acabo de ser operado ao joelho em Sevilha e, como tal, vou estar umas boas semanas longe do 'stress' do supermercado!
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segunda-feira, 14 de junho de 2010
Imposto sobre fortunas - Crónica 27
Imposto sobre fortunas em Espanha: quem recebe acima dos 100.000 euros (ano) é considerado ‘rico’ (a Andaluzia estabeleceu o valor em 80.000, o que correponde a umas 20 mil pessoas num total de 8 milhões). Isto é, 8.500 eur/mês. E o plano não avança devido ao risco de fuga de capitais para o estrangeiro??? E se o país entra em crise profunda, os capitais não fogem de qualquer maneira? Ainda que o imposto fosse de 10% sobre os 8.500, alguem passaria a ter dificuldade em viver com 7.650 eur/mês? E os que vivem com a corda ao pescoço, a enorme quantidade de pessoas que cobra cerca de 1.000 eur/mês?
É certo que muita gente vive acima das suas possibilidades. Mas quem ganha mil euros está praticamente sobre o nivel de sobrevivência (a Caritas fala de 500 euros/mês como o limiar da pobreza). Se quem recebe 8 mil por mês fica em ‘dificuldades’, então essa pessoa está a viver 7 mil euros acima das suas possibilidades …
É certo que muita gente vive acima das suas possibilidades. Mas quem ganha mil euros está praticamente sobre o nivel de sobrevivência (a Caritas fala de 500 euros/mês como o limiar da pobreza). Se quem recebe 8 mil por mês fica em ‘dificuldades’, então essa pessoa está a viver 7 mil euros acima das suas possibilidades …
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segunda-feira, 7 de junho de 2010
Crise em Espanha - Crónica 26
Confesso que não sei como se tem vivido esta crise estrutural em Portugal (tenho pouco acesso aos media de aí). Na Grécia, as contas públicas rebentaram (péssima gestão e manipulação de números no passado); na Hungria, também (inesperadamente?! e pelas mesmas razões); Espanha, está no limbo: a situação económica é muito grave e o índice bolsista despenhou-se 3,8% num só dia! Portugal parece ser o próximo da lista, na mira dos observadores internacionais.
Um relatório da Caritas (baseado num estudo de 2007-09) estima em 9 milhões (um milhão só desde o início da crise) o número de pobres em Espanha – pessoas que vivem com menos de 6.000 euros anuais.
Aqui (Espanha), discute-se a ‘redução salarial’ proposta pelo governo, o imposto sobre fortunas e os ‘pagamentos aos políticos’. Em relação a esta questão, sabemos que, em geral, foi decidido um decréscimo de 10% para os cargos mais altos (ainda que alguns autarcas tenham torcido o nariz e outros se tenham antecipado). Ainda assim, pedem-se eleições antecipadas e procuram-se politicos de ‘elíte’ (equivalente a dizer ‘melhor pagos’)!!! Sobre isto, penso que o verdadeiro e honrado politico é aquele que se dispõe a lutar pelo desenvolvimento do seu país, inedpendentemente de quanto lhe pagam. Para tais pessoas o dinheiro não será o mais importante, mas sim a honradez, sentido patriótico e algo de prestígio. Para a falácia de que ‘há que pagar mais aos melhores’, respondo com:
a) os ‘melhores’ também falham, por vezes de forma mais clamorosa, outras vezes com decepcionantes envolvimentos ilícitos (não há heróis, nem entre treinadores de futebol, nem entre politicos!);
b) indexação dos salários de politicos e altos cargos ao salário mínimo (ou médio) nacional, numa relação máxima de 1 para 10 – considero que nenhum politico vale mais que 10 vezes um cidadão comum, apesar de ter mais responsabilidades;
c) estabelecimento de uma base fixa para estes salários e de uma componente variável, função dos resultados (quantitativos e qualitativos) da sua governação (sem cair no extremo oposto, a que aludi em ‘limites ao crescimento’, Crónica 13, de 19.03.09), como forma de responsabilização directa.
O imposto sobre os ‘ricos’, foi estabelecido para rendimentos acima de 100.000 euros anuais. Outra coisa é aplicá-lo! Nem sequer se ouviu algum ‘rico’ queixar-se publicamente (Botín, presidente de um dos maiores bancos espanhóis disse, em tom de chacota e indisfarçável orgulho saloio, qualquer coisa como “com ou sem crise … os verdadeiros ricos somos apenas uma meia dúzia”), mas foi do próprio governo que sairam várias desculpas para manter o plano em stand by … ele é que os capitais fogem para o estrangeiro, que não favorece o investimento … E os ‘ricos’ continuam na maior! Um imposto de 15.000 euros sobre uma fortuna (caso se aplicasse 15% sobre 100.000) é mais importante (para as centenas, ou milhares, que a auferem) do que a viabiliadade de uma nação e do que a miséria de 9 milhões de almas que se amanham como podem para ter esperança no mês seguinte?!? E isto depois de terem sido os estados (ou seja, os contribuintes) a financiar os problemas financeiros dessas grandes empresas que seguramente mantiveram os exorbitantes niveis salariais dos seus altos dirigentes !?! Esses ‘ricos’ não fazem cá falta … A questão é que os países de destino dessas fortunas deveriam aplicar o mesmo imposto (os paraísos fiscais já nem deviam existir porque foram criados em locais ‘fora de rota’ para estimular a sua actividade, mas hoje em dia já nada está fora de rota).
O não à ‘redução salarial’ dos funcionários espanhóis (-5%), à beira de greves gerais, também me estranha. Estamos ou não todos no mesmo barco? Claro que o exemplo tem que começar de cima, pelos politicos, pelas grandes fortunas, pelos dirigentes. Claro também que não se pode tocar nos parcos rendimentos dos mais vulneráveis. Neste aspecto, os alemães dão-nos lições de solidariedade (várias vezes aceitaram redução de salários e de tempo de trabalho para não perder empregos). Nos países latinos? Nunca vi! Um programa espanhol de rádio (Inter-economia, a 5 de Junho) quase incitava à ‘rebelião’ e perguntava-se ‘como nos deixamos dormir perante esta situação’ …. Eu pergunto: como é que só agora é que acordamos? Mas, se ‘os culpados somos todos nós’ (volto à Crónica 14 de 23.03.09…)! Enquanto viamos a economia crescer e consumiamos como loucos insaciáveis, não deveriamos ter perguntado às nossas consciências e aos nossos dirigentes ‘até onde é que isto vai parar?!’
Um relatório da Caritas (baseado num estudo de 2007-09) estima em 9 milhões (um milhão só desde o início da crise) o número de pobres em Espanha – pessoas que vivem com menos de 6.000 euros anuais.
Aqui (Espanha), discute-se a ‘redução salarial’ proposta pelo governo, o imposto sobre fortunas e os ‘pagamentos aos políticos’. Em relação a esta questão, sabemos que, em geral, foi decidido um decréscimo de 10% para os cargos mais altos (ainda que alguns autarcas tenham torcido o nariz e outros se tenham antecipado). Ainda assim, pedem-se eleições antecipadas e procuram-se politicos de ‘elíte’ (equivalente a dizer ‘melhor pagos’)!!! Sobre isto, penso que o verdadeiro e honrado politico é aquele que se dispõe a lutar pelo desenvolvimento do seu país, inedpendentemente de quanto lhe pagam. Para tais pessoas o dinheiro não será o mais importante, mas sim a honradez, sentido patriótico e algo de prestígio. Para a falácia de que ‘há que pagar mais aos melhores’, respondo com:
a) os ‘melhores’ também falham, por vezes de forma mais clamorosa, outras vezes com decepcionantes envolvimentos ilícitos (não há heróis, nem entre treinadores de futebol, nem entre politicos!);
b) indexação dos salários de politicos e altos cargos ao salário mínimo (ou médio) nacional, numa relação máxima de 1 para 10 – considero que nenhum politico vale mais que 10 vezes um cidadão comum, apesar de ter mais responsabilidades;
c) estabelecimento de uma base fixa para estes salários e de uma componente variável, função dos resultados (quantitativos e qualitativos) da sua governação (sem cair no extremo oposto, a que aludi em ‘limites ao crescimento’, Crónica 13, de 19.03.09), como forma de responsabilização directa.
O imposto sobre os ‘ricos’, foi estabelecido para rendimentos acima de 100.000 euros anuais. Outra coisa é aplicá-lo! Nem sequer se ouviu algum ‘rico’ queixar-se publicamente (Botín, presidente de um dos maiores bancos espanhóis disse, em tom de chacota e indisfarçável orgulho saloio, qualquer coisa como “com ou sem crise … os verdadeiros ricos somos apenas uma meia dúzia”), mas foi do próprio governo que sairam várias desculpas para manter o plano em stand by … ele é que os capitais fogem para o estrangeiro, que não favorece o investimento … E os ‘ricos’ continuam na maior! Um imposto de 15.000 euros sobre uma fortuna (caso se aplicasse 15% sobre 100.000) é mais importante (para as centenas, ou milhares, que a auferem) do que a viabiliadade de uma nação e do que a miséria de 9 milhões de almas que se amanham como podem para ter esperança no mês seguinte?!? E isto depois de terem sido os estados (ou seja, os contribuintes) a financiar os problemas financeiros dessas grandes empresas que seguramente mantiveram os exorbitantes niveis salariais dos seus altos dirigentes !?! Esses ‘ricos’ não fazem cá falta … A questão é que os países de destino dessas fortunas deveriam aplicar o mesmo imposto (os paraísos fiscais já nem deviam existir porque foram criados em locais ‘fora de rota’ para estimular a sua actividade, mas hoje em dia já nada está fora de rota).
O não à ‘redução salarial’ dos funcionários espanhóis (-5%), à beira de greves gerais, também me estranha. Estamos ou não todos no mesmo barco? Claro que o exemplo tem que começar de cima, pelos politicos, pelas grandes fortunas, pelos dirigentes. Claro também que não se pode tocar nos parcos rendimentos dos mais vulneráveis. Neste aspecto, os alemães dão-nos lições de solidariedade (várias vezes aceitaram redução de salários e de tempo de trabalho para não perder empregos). Nos países latinos? Nunca vi! Um programa espanhol de rádio (Inter-economia, a 5 de Junho) quase incitava à ‘rebelião’ e perguntava-se ‘como nos deixamos dormir perante esta situação’ …. Eu pergunto: como é que só agora é que acordamos? Mas, se ‘os culpados somos todos nós’ (volto à Crónica 14 de 23.03.09…)! Enquanto viamos a economia crescer e consumiamos como loucos insaciáveis, não deveriamos ter perguntado às nossas consciências e aos nossos dirigentes ‘até onde é que isto vai parar?!’
quinta-feira, 20 de maio de 2010
Limites ao capital especulativo - Crónica 25
“É mais difícil que um rico entre no reino do Céus que um camelo passe pelo olho de uma agulha” (segundo o Evangelho, in ‘La Roca de Tanios’, de Amin Maalouf); “Politicos, banqueiros e empresários tinham-se dedicado a jogar à roleta russa com a economia mundial e tinham acabado de lhe fazer voar a cabeça.” (in ‘Kalashnikov’, de Vázquez-Figueroa)…
A sociedade, e os políticos em especial, deixam-se ser marionetas nas mãos de investidores irresponsáveis e sem escrúpulos que governam a economia mundial. Nem os ‘ricos’ querem ‘entrar no Céu’, nem a sociedade devia aceitar que seja o capital especulativo a determinar o seu rumo! Eu não aceito! Saúdo a decisao de hoje da Angela Merkel.
A sociedade, e os políticos em especial, deixam-se ser marionetas nas mãos de investidores irresponsáveis e sem escrúpulos que governam a economia mundial. Nem os ‘ricos’ querem ‘entrar no Céu’, nem a sociedade devia aceitar que seja o capital especulativo a determinar o seu rumo! Eu não aceito! Saúdo a decisao de hoje da Angela Merkel.
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segunda-feira, 10 de maio de 2010
Darwin em Granada - Crónica 24
“A mulher, esse espécimen tão interessante”, ou ‘tão stressante’, como exclamou um turista espanhol ao ler o painel numa das salas da exposição sobre o famoso naturalista, no ‘Parque de las Ciencias’ de Granada. A expressão é do metódico Charles Darwin, que elaborou uma lista de prós e contras para escolher um ‘feitio’ de mulher que se adaptasse ao seu (a curiosidade irrequieta e a dedicação ao estudo). Concluiu por uma ‘esposa de sofá’. E acertou!
Há uns anos tentei escrever um ensaio com humor sobre curiosidades e experiências em vários países. Chamei-lhe ‘Insólitos de um viajante’ e dizia sobre Espanha que: «resulta ser um dos países mais herméticos da Europa ocidental (refiro-me mais à Andaluzia, mas creio poder generalizar para lá desta comunidade autónoma). Digo isto apesar de reconhecer, por exemplo, as crescentes relações entre espanhóis e portugueses (relações afectivas, mais do que aos negócios): o número de casamentos, os trabalhadores em ambos lados da fronteira, os futebolistas portugueses ali admirados, etc). A vantagem de tal atitude é a de que se preserva melhor a sua cultura … É significativo que mega-cadeias americanas, na moda, como a McDonalds, não tenham tanto sucesso na Andaluzia como noutras regiões europeias. Em resposta ao fenómeno ‘Mac’, tornaram-se populares redes de pronto-a-comer de raiz espanhola (o que é estupendo) como a Pans&Company ou a Bocatta, e nunca deixaram de o ser os bares de tapas, que têm em Granada a sua ‘capital’!
Os andaluzes amam a sua música e não escutam tanta música anglo-saxónica como os portugueses (ou serão os portugueses que não escutam tanta música nacional como os espanhóis?!). Ali, os filmes são dobrados para castelhano. As legendas não são usadas. Chegam a traduzir as músicas e, por vezes, alguns nomes próprios de pessoas, de cidades ou provincias! Isto pode ser vantajoso e até ser divertido, mas o pior, é não podermos escutar as vozes dos nossos actores famosos preferidos! Imaginam uma gargalhada do Eddie Murphy ou expressão do Bart Simpson dada por uma voz castelhana?!?». Outra curiosidade é a de alguns diminuitivos de nomes próprios, usados sem aparente relação (Paco de Francisco; Pepe de José …). Prezo muito a cultura andaluza, as suas tradições e o bom gosto, mas quem diabo se lembraria de chamar ‘Curro’ a um miudo de 5 anos (também quer dizer ‘trabalho’) e ‘Covadonga’ (uma vila asturiana) a uma menina de 7…!?!
Nota: a exposição ‘Darwin’ permanece no Parque das Ciências de Granada, até Outubro; entrei lá por acaso, mas curiosamente era o único dia do ano em que não se pagava entrada (a mesma coincidência passou-me em 2004, no Coliseu de Roma!!!)
(Fotos: Granada e arredores)
Há uns anos tentei escrever um ensaio com humor sobre curiosidades e experiências em vários países. Chamei-lhe ‘Insólitos de um viajante’ e dizia sobre Espanha que: «resulta ser um dos países mais herméticos da Europa ocidental (refiro-me mais à Andaluzia, mas creio poder generalizar para lá desta comunidade autónoma). Digo isto apesar de reconhecer, por exemplo, as crescentes relações entre espanhóis e portugueses (relações afectivas, mais do que aos negócios): o número de casamentos, os trabalhadores em ambos lados da fronteira, os futebolistas portugueses ali admirados, etc). A vantagem de tal atitude é a de que se preserva melhor a sua cultura … É significativo que mega-cadeias americanas, na moda, como a McDonalds, não tenham tanto sucesso na Andaluzia como noutras regiões europeias. Em resposta ao fenómeno ‘Mac’, tornaram-se populares redes de pronto-a-comer de raiz espanhola (o que é estupendo) como a Pans&Company ou a Bocatta, e nunca deixaram de o ser os bares de tapas, que têm em Granada a sua ‘capital’!
Os andaluzes amam a sua música e não escutam tanta música anglo-saxónica como os portugueses (ou serão os portugueses que não escutam tanta música nacional como os espanhóis?!). Ali, os filmes são dobrados para castelhano. As legendas não são usadas. Chegam a traduzir as músicas e, por vezes, alguns nomes próprios de pessoas, de cidades ou provincias! Isto pode ser vantajoso e até ser divertido, mas o pior, é não podermos escutar as vozes dos nossos actores famosos preferidos! Imaginam uma gargalhada do Eddie Murphy ou expressão do Bart Simpson dada por uma voz castelhana?!?». Outra curiosidade é a de alguns diminuitivos de nomes próprios, usados sem aparente relação (Paco de Francisco; Pepe de José …). Prezo muito a cultura andaluza, as suas tradições e o bom gosto, mas quem diabo se lembraria de chamar ‘Curro’ a um miudo de 5 anos (também quer dizer ‘trabalho’) e ‘Covadonga’ (uma vila asturiana) a uma menina de 7…!?!
Nota: a exposição ‘Darwin’ permanece no Parque das Ciências de Granada, até Outubro; entrei lá por acaso, mas curiosamente era o único dia do ano em que não se pagava entrada (a mesma coincidência passou-me em 2004, no Coliseu de Roma!!!)
(Fotos: Granada e arredores)
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segunda-feira, 26 de abril de 2010
Ambição e Impacto do Homem no Planeta - Crónica 23
Desde meados do século anterior que os principais avanços no bem-estar da humanidade se devem aos meios que encontrámos de aproveitar melhor o que a Terra nos oferece. Com os alimentos que consumimos, a madeira que cortamos, a água e os minerais que extraímos, “o ser humano utiliza hoje 30 a 50% do que produz o ecosistema global”* - segundo um relatório da FAO (Janeiro 2010), 52% dos recursos marinhos estão esgotados (em 2048 poderão não existir mais peixes nos oceanos). A ONG WWF, estima que “se continuamos com este ritmo de consumo, em 2030 necessitaremos de 2 planetas”. Eis outros números preocupantes do impacto do Homem no planeta Terra, (edicão NG, ‘O pulso da Terra’, dedicada a explorar o novo paradigma do século para a humanidade – “melhorar a qualidade de vida sem destruir o meio ambiente nessa tentativa”): a população humana atingiu a cifra de 6,6 biliões de habitantes; pela primeira vez na história, metade da humanidade vive em cidades; são já 21 as megalópolis (cidades com mais de 10 Milhões de habitantes); transformámos 35% da superficie emersa do planeta em campos de cultivo e pasto para o gado (sendo que grande parte da superficie restante é inóspita e inabitável); há 100 anos, 90% do território da Tailândia estava coberto por florestas, hoje são apenas 20%...
Mas nem por isso tanto crescimento, resultado de uma exploração desmesurada do planeta, conseguiu repartir a prosperidade. Bem pelo contrário, este veio revelar e acentuar enormes desequilíbrios sociais e injustiças insustentáveis: os 50% da população mais pobre detém apenas 1% dos recursos mundiais, enquanto o 1% dos mais ricos detém 40% dos recursos; as duas pessoas mais ricas do mundo possuem uma fortuna superior ao PIB combinado dos 45 países mais pobres, enquanto os países do G20 controlam 86% da economia mundial (em 2000, 20% da população do globo realizou 85% do consumo mundial, enquanto outros 20% apenas consumiram 1,3%)!!! Políticos com dificuldade em aumentar as audiências ou em fim de carreira, atrevem-se, por fim, a fazer afirmações óbvias e reveladoras: David Cameron, líder do Partido Conservador britânico, disse em 2006, “É hora de que reconheçamos que a vida é muito mais do que dinheiro”; António Guterres, ex-primeiro ministro, agora ao serviço das Nações Unidas, lembrou em 2008, num canal de televisão, a expressão irónica “Se os ricos não cuidam dos pobres, os pobres ‘cuidarão’ dos ricos”. Amin Maalouf (Libano, 1949), repórter e escritor, desvela o «desregramento na nossa escala de valores» e questiona se a «aventura humana» em que embarcámos terá atingido um «limiar de incompetência moral» (in ‘Um mundo sem regras’). É que, no meio de tanta hipocrisia e tanto ‘aproveitamento para beneficio de uns poucos’, com «as nossas instituições financeiras mais veneráveis» a comportar-se «como delinquentes embriagados», alguns dos estados supostamente mais desenvolvidos do planeta ainda reivindicam a posse de porções de território no fundo do Ártico, na Antártida e, possivelmente, na Lua! (excerto do livro ‘Os novos exploradores e a a ventura dos sentidos’ – mais em http://aventuraaomaximo.blogspot.com)
Mas nem por isso tanto crescimento, resultado de uma exploração desmesurada do planeta, conseguiu repartir a prosperidade. Bem pelo contrário, este veio revelar e acentuar enormes desequilíbrios sociais e injustiças insustentáveis: os 50% da população mais pobre detém apenas 1% dos recursos mundiais, enquanto o 1% dos mais ricos detém 40% dos recursos; as duas pessoas mais ricas do mundo possuem uma fortuna superior ao PIB combinado dos 45 países mais pobres, enquanto os países do G20 controlam 86% da economia mundial (em 2000, 20% da população do globo realizou 85% do consumo mundial, enquanto outros 20% apenas consumiram 1,3%)!!! Políticos com dificuldade em aumentar as audiências ou em fim de carreira, atrevem-se, por fim, a fazer afirmações óbvias e reveladoras: David Cameron, líder do Partido Conservador britânico, disse em 2006, “É hora de que reconheçamos que a vida é muito mais do que dinheiro”; António Guterres, ex-primeiro ministro, agora ao serviço das Nações Unidas, lembrou em 2008, num canal de televisão, a expressão irónica “Se os ricos não cuidam dos pobres, os pobres ‘cuidarão’ dos ricos”. Amin Maalouf (Libano, 1949), repórter e escritor, desvela o «desregramento na nossa escala de valores» e questiona se a «aventura humana» em que embarcámos terá atingido um «limiar de incompetência moral» (in ‘Um mundo sem regras’). É que, no meio de tanta hipocrisia e tanto ‘aproveitamento para beneficio de uns poucos’, com «as nossas instituições financeiras mais veneráveis» a comportar-se «como delinquentes embriagados», alguns dos estados supostamente mais desenvolvidos do planeta ainda reivindicam a posse de porções de território no fundo do Ártico, na Antártida e, possivelmente, na Lua! (excerto do livro ‘Os novos exploradores e a a ventura dos sentidos’ – mais em http://aventuraaomaximo.blogspot.com)
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quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
Desregramento da nossa escala de valores - Crónica 22
A National Geographic, no seu filme ‘6 graus que podem mudar o mundo’ e na sua revista (edição ‘España’ de Agosto e Dezembro de 2009), lança novos dados preocupantes para o futuro do mundo, que não podem deixar ninguém indiferente: em 40 anos os glaciares dos Himalaias podem desaparecer; em 50 anos o desgêlo da Groenlândia será irreversivel; a frente do glaciar Cook (na Georgia do Sul) tem agora um metro de altura, por isso foi invadida por pinguins - antes tinha 20 metros de altura; nos proximos 30 anos os incêndios na Austrália serão ainda piores e a sucessão entre secas e inundações pode tornar-se normal; actualmente o Reino Unido já tem mais de 480 vinhedos e também olivais, porque o clima das ilhas está mais ameno;
A pegada de carbono (CO2) dos hamburgers com queijo: 200M de m3 de gases de estufa (inclui o metano produzido pelo gado); 35% dos cereais do mundo são usados para alimentar gado e não pessoas (apesar da fome em vários países); em 2008, mais de 3,5 milhões de hectares de floresta foram danificados ou destruidos (em parte para criar gado ou produzir cereais); 80% das emissões poluidoras são de países desenvolvidos;
Se a temperatura da Terra subir 2 graus: os glaciares da Groenlândia desaparecem; os ursos polares podem extinguir-se; as ilhas Tuvalu ficam submersas; um terço da floresta Amazónica pode desaparecer até ao fim do século;
Face a dados como estes, Amin Maalouf, escreve em “Um mundo sem regras” (2009): A relação do sistema “com o dinheiro e com a maneira de o ganhar tornou-se obscena. Que não se tenha vergonha de enriquecer, compreendo. Que não se tenha vergonha de saborear os frutos da prosperidade, também aceito; a nossa época propõe-nos tantas coisas belas e boas que seria um insulto à vida recusar desfrutar dela. Mas que o dinheiro seja completamente desligado de toda a produção, de todo o esforço físico e intelectual, de toda a actividade socialmente útil? Que as nossas praças bolsistas se transformem em gigantescos casinos onde a sorte de centenas de milhões de pessoas, ricas ou pobres, seja decidida num lance de dados? Que as nossas instituições financeiras mais veneráveis acabem por se comportar como delinquentes embriagados? Que as economias de toda uma vida de labor podem ser aniquiladas ou multiplicadas por trinta em alguns segundos e segundo processos esotéricos que os próprios banqueiros já não compreendem? Isso é uma perturbação grave (…) Será necessário acrescentar com todas as letras que este desregramento financeiro é também, e talvez acima de tudo, o sintoma de um desregramento na nossa escala de valores? (…) Fazer do dinheiro o critério de toda a respeitabilidade, a base de todo o poder, de toda a hierarquia, acaba por esfarrapar o tecido social.”
Como pude comprovar nas viagens a glaciares em perigo (e escrevi em http://icecare.blogspot.com), neste momento, os efeitos do aquecimento global são visiveis em permanência nas latitudes mais elevadas (perto dos pólos) e a grandes altitudes (digamos, acima dos 2.500 metros). Em latitudes mais baixas (perto dos trópicos) aqueles efeitos assumem a forma de fenómenos pontuais e violentos, mas a sua frequência e intensidade está a aumentar assustadoramente! Falo de furacões, tempestades de areia e neve, cheias, secas … Parte desta responsabilidade é de todos nós!
A pegada de carbono (CO2) dos hamburgers com queijo: 200M de m3 de gases de estufa (inclui o metano produzido pelo gado); 35% dos cereais do mundo são usados para alimentar gado e não pessoas (apesar da fome em vários países); em 2008, mais de 3,5 milhões de hectares de floresta foram danificados ou destruidos (em parte para criar gado ou produzir cereais); 80% das emissões poluidoras são de países desenvolvidos;
Se a temperatura da Terra subir 2 graus: os glaciares da Groenlândia desaparecem; os ursos polares podem extinguir-se; as ilhas Tuvalu ficam submersas; um terço da floresta Amazónica pode desaparecer até ao fim do século;
Face a dados como estes, Amin Maalouf, escreve em “Um mundo sem regras” (2009): A relação do sistema “com o dinheiro e com a maneira de o ganhar tornou-se obscena. Que não se tenha vergonha de enriquecer, compreendo. Que não se tenha vergonha de saborear os frutos da prosperidade, também aceito; a nossa época propõe-nos tantas coisas belas e boas que seria um insulto à vida recusar desfrutar dela. Mas que o dinheiro seja completamente desligado de toda a produção, de todo o esforço físico e intelectual, de toda a actividade socialmente útil? Que as nossas praças bolsistas se transformem em gigantescos casinos onde a sorte de centenas de milhões de pessoas, ricas ou pobres, seja decidida num lance de dados? Que as nossas instituições financeiras mais veneráveis acabem por se comportar como delinquentes embriagados? Que as economias de toda uma vida de labor podem ser aniquiladas ou multiplicadas por trinta em alguns segundos e segundo processos esotéricos que os próprios banqueiros já não compreendem? Isso é uma perturbação grave (…) Será necessário acrescentar com todas as letras que este desregramento financeiro é também, e talvez acima de tudo, o sintoma de um desregramento na nossa escala de valores? (…) Fazer do dinheiro o critério de toda a respeitabilidade, a base de todo o poder, de toda a hierarquia, acaba por esfarrapar o tecido social.”
Como pude comprovar nas viagens a glaciares em perigo (e escrevi em http://icecare.blogspot.com), neste momento, os efeitos do aquecimento global são visiveis em permanência nas latitudes mais elevadas (perto dos pólos) e a grandes altitudes (digamos, acima dos 2.500 metros). Em latitudes mais baixas (perto dos trópicos) aqueles efeitos assumem a forma de fenómenos pontuais e violentos, mas a sua frequência e intensidade está a aumentar assustadoramente! Falo de furacões, tempestades de areia e neve, cheias, secas … Parte desta responsabilidade é de todos nós!
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