Ser pobre em França pode ser enganador para um português, já que a fasquia está colocada cerca dos 900euros/mês (o salário mínimo), mas não é menos certo que por todo o lado cresce o número de pessoas com ‘a corda na garganta’. Os frios números de Setembro disseram que nos Estados Unidos da América 14% da população (uns 35 milhões de habitantes) está a viver num nível de pobreza (recebe menos de 10.800 USD/ano). Em França, 13% da população (8 milhões) vive no limiar da pobreza. Em Espanha, o desemprego chegou aos 21% (mais de 4,5 milhões de pessoas); ali, fala-se de uma geração perdida, os ‘Ninis’ (não estudam e não trabalham, e um de cada 4 deles nem deseja fazê-lo), que representam 14% da população juvenil (15-24 anos). Roménia e Bulgária são outros dos países europeus onde o desemprego atinge cifras da ordem dos 20%...
Passados tantos séculos, parece que as sociedades modernas continuam a padecer dos males que afectavam a época dos imperadores romanos, do séc. II d.C.: “Parte dos nossos males provém de que há demasiados homens vergonhosamente ricos ou desesperadamente pobres” (Marguerite Yourcenar, em ‘Memórias de Adriano’). E isto é tão básico que me custa compreender que apenas aqueles que têm uma preocupação extrema com a acumulação de dinheiro (e de prestigio petulante), como empresários e políticos, não vêem! Alguém me respondeu que sempre existirão ricos e pobres: de acordo, não contesto, até porque existem pessoas que fazem questão de viver com pouco ou de não trabalhar! A dúvida coloca-se na amplitude de tal diferença, no exagero da diferença prática entre aqueles que vivem ‘demasiadamente bem’ e desperdiçam muito, e os que se ‘matam’ a trabalhar para se manterem apenas no limiar da sobrevivência!
Discordo de filosofias ‘anti-despedimento’ de esquerda (porque nem o Estado nem um empresário com iniciativa têm obrigação de alimentar um empregado que não quer trabalhar ou que o faz mal (e são muitos). Desconfio dos designados ‘direitos adquiridos’ porque isso gera acomodamento (e, em consequência, baixas produtividades e qualidade de serviço inaceitáveis e asfixiantes) e porque necessitamos manter alguma capacidade de adaptação numa sociedade em permanente mudança. Mas também penso que classe politica e sector administrativo do Estado devem ser mais responsabilizados, e remunerados em função de uma produtividade, mais qualitativa que quantitativa, de acordo com uma lógica mista (uma base fixa e uma parte variável em função dos resultados).
Os dirigentes políticos fazem questão de nos fazer crer no seu ‘patriotismo’ (uma palavra com cada vez menos significado), e de pousar a mão no peito quando escutam o hino nacional…. O Presidente Zapatero agradeceu o “esforço dos espanhóis” perante a crise e medidas paliativas do governo que lhes retiram benefícios e lhes agravam a vida. Ele recebe mais de 71.000Euros/ano (não é que seja demasiado, mas nalgumas comunidades, o rico é o que ganha mais de 80.000Euros/ano – será coincidência?!), fora os extras! Perante um país em grave crise, as elevadas percentagens de desemprego, e a quantidade de famílias a lutar pela sobrevivência, não seria elementar que esses mesmos políticos fossem os primeiros a dar o exemplo, pondo em prática o dito patriotismo, decidindo reduzir as suas regalias? Uma questão de princípio! Como se pode aceitar que os dirigentes máximos de um país decidam reduzir os parcos benefícios de alguns (refiro-me ao aumento da idade de reforma, e redução de 5% de alguns salários, no caso espanhol), sem tocar nos seus próprios (a retribuição dos políticos apenas foi ‘congelada’)?
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1 comentário:
Acho que vou deixar de comprar jornais e começar a lêr as tuas crónicas. É que fico bem mais esclarecida (além de explicares com português correcto mas simples).
Obrigada Z. Vou começar a ser tua leitora assidua.
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