terça-feira, 15 de maio de 2012

Crise é crise...! - Crónica 50

Uma senhora escreveu ao presidente Cavaco Silva a dizer que já só tomava banho uma vez por semana!
Pessoas contaram-me que põem a máquina de lavar roupa a funcionar menos vezes e com programas de tempo mais curtos. Contaram-me que em Lisboa já se vê muita gente a almoçar de marmita, dentro do automóvel. Contaram-me também que muita gente aproveita uma boa descida para engatar o ponto-morto e deixar o carro deslizar... Isto para elencar apenas alguns exemplos de novas formas forçadas de poupança.
Não me surpreende! Crise é adaptar-se à escassez!
Nos semáforos arranco devagar, sem esticar as mudanças, para poupar no exorbitante preço do litro de combustível.
O ‘engraçado’ (ironia) é que hoje, ao contrário de há 20 anos, já não compensa viajar de comboio: agora, nos meios de transporte público, outrora acessíveis, temos que pagar os elevadissimos salários de numerosos administradores dispensáveis e os lucros de 2 dígitos definidos nos objectivos de ‘gestão privada’ e requeridos pelos agressivos acionistas...

Comprovei que muitos levam a marmita! (até já vi quem durma no carro, mas sobre isso prefiro não especular). Descobri que muitos conduzem como eu: ponto-morto e arranques suaves!
Mas, ontem fiquei a saber que este tipo de condução irrita alguns, a quem a crise parece não afectar: arrancando devagar o meu pesado veículo num semáforo da marginal (duas vias no mesmo sentido), sái detrás de mim um condutor com uma aceleração de fazer chiar os pneus e deixar fumo no ar, exibindo a potência de cavalos do seu Mercedes imune à crise, como que dizendo “tira essa carripana da minha frente”! Eu não pretendo ter uma viatura veloz e exclamo para mim “não vejo aqui nenhum Ferrari”, ao mesmo tempo que prossigo no meu andamento, entre o possível, devido ao peso, e o poupado, devido ao elevado consumo! Mais adiante ele teve que travar (gastando mais pastilhas) porque na marginal há filas e circula-se devagar!
Um chamamento à razão impõe-se, no entanto. Donos de automóveis alemães, e de outros de alta cilindrada, com nervoso miudinho e pé pesado, não vos exalteis por ter à vossa frente um carro mais lento, ainda que seja uma pesada caravana de 3.500kg...! É que, caso não tenham notado, muitos já esgravatam no fundo dos bolsos para encontrar as moedas que permitem abastecer mais umas gotas de combustível para continuar a circular!