sábado, 27 de novembro de 2010

Nova recessão ao virar da esquina… - Crónica 39

Os Estados Unidos da América são o país com o maior número de reclusos: têm 2 milhões de presidiários, e muitos (7 em cada 10, no caso da Califórnia) são designados de “passageiros frequentes” porque reincidem. Um membro de um gang, tatuado, esteve preso 96 vezes. Muitos não têm nada lá fora e, ao sair, recebem 180USD para refazer a vida ou, como bilhete de volta!!!
A China, há 50 anos era um país pobre; há 15 anos era ‘emergente’; no ano passado passou a ser a 2ª economia do mundo; agora, a crise internacional e consequente redução de encomendas obrigou ao encerramento de fábricas. Só no delta do rio da Pérolas existem 35 milhões de desempregados… (Histórias do Mundo, SIC, 26.11.10). Em Portugal, a Caritas aumentou o número de pessoas a quem presta apoio de 5.000 para 62 mil (dia 15 Nov.) e considerou que os casos de pobreza aumentaram 30% este ano.
Enquanto o economista George Soros anunciava (em Junho) que a China iria “liderar a recuperação económica …”, e o mundo esboçava um sorriso por os americanos começarem a provar o amargo do seu próprio remédio (ao ver emergir uma economia que pode superar a deles), eu acrescentei numa crónica deste blog, em Julho, que provavelmente a China iria liderar também o próximo crash…: “O crescimento anual de dois dígitos da China pode bem vir a provocar o próximo ‘crash’ global pois não é possível sustentá-lo indefinidamente. A China corre o risco de se tornar na vítima do seu próprio crescimento descontrolado, e com ela arrastar toda a economia mundial! O mundo está repleto de exemplos de coisas que ultrapassam as nossas medidas e capacidade de domínio. A ambição desmesurada do Homem é, frequentemente, a causa da sua própria ruína”.
Se alguém do governo PS ou algum apologista do neo-liberalismo lê-se este texto, sem dúvida falaria de discurso alarmista e de fatalismo e que o que é necessário é ‘dar confiança aos portugueses’… mas isso são as sopinhas mornas a que estes ‘dirigentes da nação’ e amigos da ‘privatização dos lucros e socialização dos prejuízos’ nos querem habituar para continuar a viver no irrealismo do seu alto pedestal! “Esta gente está protegida e não faz esforço nenhum”, disse Macário Correia (RTP, 27.11.10), referindo-se aos defensores do regime de excepção para altos quadros de empresas públicas, no que concerne à aplicação de reduções salariais de 5%! “Sobram exemplos de até que ponto os dirigentes políticos e os líderes sociais se limitam a gerir a ignorância dos outros”, escreveu Eduardo Punset.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Fantasia e justiça social! - Crónica 38

Nem de propósito! Depois de em Wall Street se ter levantado, de novo, o fantasma dos prémios dos executivos de grandes empresas financeiras americanas intervencionados com dinheiros públicos no inicio da actual crise internacional – foi estimado em 104 mil milhões de Euros o valor dos ganhos em prémios pelos executivos das empresas da maior praça bolsista do mundo, o que representa 4% mais dos que no ano de 2009 que já tinha sido um recorde (TVE1, 13.10.10); e depois daquele e-mail que circulou por aí mostrando como 20 administradores de empresas públicas portuguesas (vinte, enfatizo) recebem 52,8 milhões de euros por ano (desde os 58,8 mil euros/mês do administrador da Carris aos 371 mil/mês do administrador da CGD e aos 420 mil do da TAP, mais prémios, 13º mês e subsídios), o suficiente para dar emprego a 4.190 funcionários públicos (a 900 euros/mês, ou a 6.285 pessoas se recebessem 600€/mês, que é mais que o salário mínimo)! Quem fez circular este e-mail exclamava no final: “E depois ainda querem saber se a malta está disposta a abdicar do subsídio de férias e/ou Natal para ajudar o país…”; e considerava ‘escandalosos’ e ‘ofensivos’ os salários pagos pela RTP aos seus directores e jornalistas, uma empresa financiada com dinheiro dos contribuintes e que dá prejuízo (José Alberto Carvalho, como director de informação, tem um vencimento ilíquido, e sem contar com as ajudas de custos, de 15.999 euros por mês)! A EDP ficava fora desta lista, mas o seu administrador, António Mexia, esteve recentemente na televisão a tentar explicar o inexplicável: a barbaridade que representa o volume recorde dos prémios que recebeu… O governo vem, só agora, proibir a acumulação de vencimentos e pensões na função pública. Como é que isto foi possível até hoje? Se a medida se destinasse a ‘povinho’ provavelmente teria efeitos retroactivos, mas sendo para a classe dirigente…
Depois destes dados, dizia, a RTP1 (em Jornal da Tarde de 10.11.10) entrevistou uma funcionária do sistema fiscal suíço. Vejam só: na Suíça, o máximo que uma pessoa pode receber de reforma são 1.700 euros por mês (considerado o suficiente para uma vida condigna), para além de eventuais benefícios a titulo privados. O Estado garante, desta forma, o essencial aos mais necessitados. Democratizando o sistema sem comprometer o orçamento da segurança social. Afinal aquilo que eu defendia, como se recordarão os que comigo falaram sobre o tema! Por cá, continuamos a viver no ‘País das maravilhas’!!!