quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

As Manias da Paula e as Maiores Tolices do Mundo - Crónica 47

Está disponivel o meu novo livro... São 'aventuras' de um tipo muito diferente... Fica um trecho (sinopse e encomendas em: http://www.bubok.pt/livros/4919/As-Manias-da-Paula-e-as-Maiores-Tolices-do-Mundo):
A chuva de “Concursos-relâmpago” nas autarquias de há um ano atrás é apenas uma amostra disso: “Desde Agosto, as câmaras municipais portuguesas, endividadas até aos ossos, já abriram 82 concursos com carácter de urgente, no valor de perto de 100 milhões de euros. Com prazos, em muitos casos, de apresentação de propostas de não mais de 72 horas. Se isto não levanta dúvidas, não sei o que mais pode levantar”.Se bem te percebo, Paula, consideras mesmo que o novo fôlego da luta pelas autonomias se insere neste capítulo dos caprichos...

Paula, deixa-me tentar seguir o teu raciocínio, resumindo algumas das expressões mais ilustrativas que registaste: Seguidores de Freud descreveram os ‘acumuladores de riqueza’ como o «tipo anal», cujo impulso é amontoar dinheiro e bens por causa do seu atrofiado desenvolvimento emocional e de conflitos não resolvidos - Freud argumentara que coleccionar e acumular era um substituto da conquista sexual (Geraint sugere que “o ego de um homem está frequentemente na proporção direta e inversa da sua inteligência”).

“Os ricos conseguem mais açúcar que o resto de nós... E sempre que um animal consiga mais quantidade de um recurso, isto fará mudar a conduta do animal” (Richard Conniff). Glenn Weisfeld, psicólogo da Universidade de Wayne, acrescenta sobre a conduta que, «ser irrespeituosos é precisamente o que fazem os indivíduos dominantes». Os tiques e obsessões desenvolvem-se mais em crianças vítimas de pais autoritários e mães hiper-protectoras. As personalidades de tipo ‘triplo A’ (que consubstanciam aquela conduta) “erosionam a sociedade” (na Alemanha, por exemplo, a percentagem de chico-espertos e ‘triplos A’ é notoriamente inferior à dos países latinos)... Geraint Anderson adianta o exemplo da Goldman Sachs (ou ‘Sucks’ de ‘mete nojo’, como a ela se referiam na City) que revelava uma preferência por aqueles que foram provavelmente vítimas de bullying na escola (segundo alegadas informações de psicólogos ao departamento de RH do banco) - são estes quem mais estão dispostos a trabalhar até às 4 da manhã e aos fins de semana para terminar um trabalho pois estão “desesperados por provar-se a si mesmos”. Estes bancos e correctoras sabem que o sonho de todo o sabichão (‘geek’) vítima de bullying é ganhar suficiente dinheiro para conseguir aquela namorada vistosa e “comprar o Ferrari e depois certificar-se que os seus antigos atormentadores sabem disso” - como quem diz «Agora sou alguém! Sou um vencedor!» -, embora, no fundo, eles saibam que continuam a ser os “mesmos idiotas patéticos por dentro”.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Hipocrisía política e evidências milionárias - Crónica 46

A hipocrisia da classe política chega ao ponto de admitir que um chefe de governo ignore propositadamente um determinado problema, mas logo depois de terminado o seu mandato se constitua como principal interessado na obtenção de proveitos resultantes, precisamente, da exploração da área antes negada! O caso do ex-primeiro ministro de Espanha, Aznar, é elucidativo: durante o período do seu governo pouco ou nada fez pelo ‘Ambiente’ e não acreditava nas ‘alterações climáticas’ provocadas pelo homem. Agora, está à cabeça do instituto que vai gerir os astronómicos fundos governamentais postos à disposição para ‘ajudar a adaptar’ as populações e as regiões às ditas alterações!
A questão colocava-se entre combater as causas, o que implicava fazer frente a poderes económicos de indústrias instaladas, ou tentar minorar os efeitos, ajudando pessoas e países a adaptar-se. Obviamente, a segunda hipótese é muito mais confortável do ponto de vista da não confrontação e do populismo, além de que, mais uma vez, utiliza o manancial de dinheiros públicos da população (resultantes de impostos) para beneficiar projectos privados com reduzido controle de custos (um benefício geralmente maior para quem procede à ‘obra’ do que aquele que resulta para as populações que supostamente pretendem defender)! Numa caricatura no diário espanhol ‘Publico’, Aznar dizia: “Claro que continuo a ser ‘negacionista’, o que acontece é que antes negava as alterações climáticas e agora nego-me a não sacar uma talhada das catástrofes que provoca”!
A chefe de projectos climáticos da Fundação Rockefeller defende que “a prioridade é a adaptação, antes da mitigação”. A secretária de Estado espanhola para as alterações climáticas, Teresa Ribera, contrapõe que esquecer as causas do aquecimento “é hipócrita e não tem pés nem cabeça, porque chegaria um momento em que não poderíamos paliar nada”. É que, os países pobres suportam 99% das mortes associadas às alterações climáticas (um total de 21.000 até Set. de 2010). Há já quem considere que a ‘adaptação’ é um estratagema daquelas multinacionais que pressionam os governos dos países pobres afectados a reclamar verbas para depois as gerirem: a Nicarágua reclama 5,5 milhões para adaptar-se às inundações; a Eritreia pretende investir 6,5 milhões em sistemas de rega; o Paquistão necessita de 7,9 milhões para reduzir o impacto do derretimento dos glaciares do Karakorum. É muito mais ‘fácil’ gerir as verbas do que combater causas e, deste modo, as multinacionais actuam como uma espécie de consultor que faz a intermediação entre os governos necessitados e os cofres dos países ‘ricos’, cobram principescamente e instalam soluções que não garantem nada! Excelente negócio! Porque será que isto me faz lembrar uma história recente, relacionada com o derretimento dos glaciares…?!? (trecho do meu próximo livro: ‘As manias da Paula e as maiores tolices do mundo’)

Vem isto a propósito do nosso primeiro, Passos Coelho, que com paninhos quentes vai pedindo que não hajam conflitos sociais, ao mesmo tempo que realiza pesados (e necessários, diga-se) cortes na despesa pública, à custa do sacrifício sobretudo da classe média, e continuando a não se explicar a carnavalada que vai com os novos administradores da CGD e os projectos de privatização. Note-se que, a dívida pública portuguesa ronda os €160 mil milhões e a privatização de empresas públicas apenas contribuirá com €5,5 milhões para esse déficit (segundo Nicolau Santos do Expresso)!
Acontece que, finalmente, um milionário lúcido teve a coragem de vir a público dizer que é hora de contar com eles, os muito ricos! Warren Buffet, pôs o dedo na ferida ao afirmar que o Congresso norte-americano tem sido muito amigo deles, os multimilionários, e apelou a que o seu governo “deixe de mimar os super-ricos” introduzindo impostos sobre as grandes fortunas.
Quando toda a população vê o óbvio, que só os governantes se recusam a ver, nem que fosse para dar o exemplo, e é preciso virem os mais beneficiados expor esse óbvio com letras garrafais, não podemos deixar de concluir que a vassalagem que os políticos prestam ao poder económico se deve a que tiram partido directo da situação.
Haja mais coragem e honestidade!

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Ao volante, da Venezuela a Algés - Crónica 45

Auto-estrada M4, um Audi inteligente, sem condutor?!
Não! Estamos no Reino Unido, a caminho de Cardiff, e os britânicos continuam a conduzir com o volante à direita!
Com estas ‘observações de um condutor em terra alheia’, pretendo fazer uma pequena comparação do que de mais característicos têm alguns hábitos e estilos de condução noutros países europeus.
E os ingleses, para além daquele hábito frustrante para o resto dos europeus, circulam com as luzes desligadas mesmo com chuva e a alta velocidade, em auto-estrada. Por outro lado, desviam-se rapidamente para a esquerda para te deixar passar pela faixa da direita ou, para a direita, para te deixar incorporar na auto-estrada quando vens de fora dela. A propósito, lembro-me como em 2004, num passeio por Londres, um colega ‘artístico’ e distraído, o romeno Catalin, deu um passo para a estrada olhando para a direita… e da sua cara de terror e as pernas a correr no ar, como nos desenhos animados, quando se deu conta que do lado esquerdo vinha lançado um autocarro de dois andares… Safou-se por pouco!
Já agora, falta-lhes o detalhe, generalizado, de oferecer luvas de plástico para o self-service da gasolina.
Na Alemanha, é frequente os camiões, mais lentos, pararem bastantes metros antes de um semáforo para deixar lugar a que uns quantos automóveis se adiantem.
O português tem fama de mau condutor. Creio que é conhecido e temido sobretudo pelas ultrapassagens perigosas, arriscadas e à tangente, a alta velocidade ou passando traços contínuos. E as maiores borradas actualmente são praticadas por condutores de potentes Audi e BMW.
Em Algés, por exemplo, são os peões quem se atira para o asfalto e quase para cima dos automóveis cujos condutores têm que circular muito atentos para não varrer nenhum…
Em Caracas, Venezuela, os semáforos não são tidos em consideração! Quando passas um sinal verde tens que avançar com toda a precaução porque é provável que venha algum lançado da rua perpendicular (que devia estar parado no vermelho). Mas na Andaluzia, pelo menos em Granada, abunda um personagem muito característico do asfalto: o ‘chulito’ - jovem do sexo masculino de 20 e poucos anos (que não raras vezes se arrasta até aos 30 e muitos) -, que poderíamos traduzir por ‘pintas’ (ou o que se ‘arma em bom’), e que é um verdadeiro perigo público ao volante. No seu Seat, ou outro modelo tuneado (decorado com adereços tunning), o chulito não se deixa ultrapassar! Passa traços contínuos, semáforos vermelhos, e faz razias aos peões sobre as passadeiras… À conta deste típico personagem, as estradas de Granada são das mais perigosas para circular. Muito mais do que as estradas portuguesas!

quinta-feira, 23 de junho de 2011

A Economia Carroussel - Crónica 44

Tal como o jogo da cadeira, em que cada vez que a música faz uma pausa, há um ‘actor’ que fica sem cadeira e salta fora do jogo. Os que continuam vão ficando mais fortes, mas também não estão livres de, repentinamente, perder a cadeira…! Esta é a economia-carrossel em que estamos mergulhados. “Não é uma economia de mercado. É uma sociedade de mercado!”, disse José Luís Sanpedro, depois de receber a ‘Medalha de Honra das Artes’ (09.03.11). Sanpedro, com 94 anos, recordou que não se pode admitir que 20% da população continue a deter 80% da riqueza do mundo e ainda por cima se de ao luxo de desperdiçar e mal-gastar. Trocámos os valores pelo ‘preço’! (expressão de Punset).
É contra o domínio destes ‘novos valores’ que se rebela o ‘Movimento 15M’ (http://www.facebook.com/Mov15M?sk=wall). Estou totalmente de acordo!

Fotos: concentração em Granada, em Maio; e em Madrid, em Junho

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A nova descriminação e a falta de democracia - Crónica 43

A descriminação de hoje já não é racial. Já deixou de ter que ver com a cor da pele há muito tempo. Qual ‘preto’ ou ‘cigano’ qual carapuça! A nova descriminação é económica, e é fomentada pelos governos!
O primeiro-ministro inglês, David Cameron, convidou os ricos a instalar-se no seu país, anunciando novas facilidades para os milionários que solicitem residência em Inglaterra. Basta-lhes trazer 12 milhões de euros e todos os trâmites se reduzem e agilizam…
Veja-se a facilidade (rapidez) com que um jogador de futebol adquire uma nova nacionalidade para poder representar a selecção do país de acolhimento!?
Os parquímetros das grandes cidades são outra das formas que assume este mesmo tipo de descriminação. Para quem tem muito dinheiro não faz diferença pagar uma mensalidade numa garagem coberta para estacionar o bólide, ou pagar uma diária de vários euros de parquímetro e ficar estacionado perto do local de trabalho – valor que ao final do mês se traduz numa quantia substancial e incomportável para os remediados.
Se há descriminação económica para obtenção de residência, para estacionar, para aceder a toda uma série de funções, oportunidades e regalias, então não há ‘igualdade’. Se não há igualdade não pode haver uma verdadeira democracia!

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Desequilíbrio nas relações corporações-cidadão - Crónica 42

‘Comando actualidade’, canal 24H (20.12.10): O Banco Sabadell possui 1700 casas e andares por toda a Catalunha; Existem nesta data 1,5 milhões de casas sem vender em Espanha; 100.000 casas ou andares, em Espanha, estão embargados por bancos; os ‘Fundos Abutre’ ingleses e americanos começam a entrar no mercado espanhol, gastando 30 ou 40 milhões de euros em compras de casas por atacado aos bancos, para mais tarde vendê-las uma a uma; um construtor que trabalha na conservação dos seus andares vazios, alguns assaltados várias vezes, teve que despedir uns 180 de 300 trabalhadores; um casal alemão investe na construção de uma casa em Marbella que vai ser vendida a ingleses por uma promotora sueca…

Miguel Sousa Tavares alertava para o escândalo que constitui o facto de a PT não pagar “um tostão de mais-valias num negócio de 7500 milhões de euros porque factura os lucros da operação através de uma sua subsidiária sediada na Holanda, onde a taxa de IRC é de… 0%! É um escândalo para a Holanda, que serve de barriga de aluguer para dumping empresarial e fuga fiscal, e um escândalo para a UE, os Estados Unidos e todo o G20…”. MST classifica os offshores de “coisa pornográfica” e “autênticos salteadores da riqueza das nações e fábricas de desempregados”. Conclui, escrevendo que “nunca o capitalismo foi um jogo tão viciado e amoral. A falência óbvia do socialismo foi o caminho aberto para a libertinagem, sem regras, sem princípios morais e sem qualquer preocupação de que a economia sirva os povos, em lugar de os sugar” (em Expresso, 20.11.10).

Da especulação pura dos ‘Fundos Abutre’, ao embargo pelos Bancos de casas hipotecadas, por falta de pagamento, a dança carnavalesca dos mercados bancário e imobiliário prossegue… Os benefícios fiscais manobrados pelas ‘Telecom’, completam o ramalhete de vantagens que vão claramente para os sacos das poderosas instituições, em prejuízo do pequeno consumidor e contribuinte!
No caso da banca, é patético o desequilíbrio verificado na relação com os devedores ou 'prestatários'. E a Justiça permite-o! São conhecidos os 1.200 milhões de euros de lucro dos 4 maiores bancos privados portugueses (BESC, BCP, BPI, Santander) nos 9 primeiros meses de 2010, em plena crise internacional, com a economia em retracção, o desemprego em aumento, bem como o encerramento de pequenas empresas a quem os mesmos bancos negam créditos… (ou os 4,6 milhões/dia, que ganharam os 5 maiores bancos em Portugal - os anteriores + CGD). Os bancos assumem zero riscos nas operações de empréstimo para a compra de casa (apenas correm o risco de ganhar menos do que pretendem) … Para as famílias, o risco pode significar ir viver para a rua!
Os bancos deviam assumir parte do risco dos seus empréstimos e não lhes devia ser permitido embargar casas se isso significa deixar uma família sem tecto. Por outro lado, o Estado devia assumir parte da responsabilidade, criando um mecanismo de protecção que assumisse a divida ao Banco e renegociasse as condições com as famílias, proporcionando-lhes uma almofada de ar, mas, sobretudo, opondo-se a que alguém seja despojado da sua casa perdendo tudo: o lar e o valor entretanto pago ao Banco…

“Sobram exemplos de até que ponto os dirigentes políticos e os líderes sociais se limitam a gerir a ignorância dos outros”… O exercício abjecto do poder político é um dos 3 factores que, nas sociedades complexas, “nutrem o descontentamento e a infelicidade” (junto com a disparidade entre índices de crescimento económico e de felicidade, e o que E. Punset chama de ‘sociedade das avarias’).
“Quando se analisa o paradoxo do declínio dos níveis de felicidade no mundo em que não cessa de aumentar o nível do bem-estar e equipamentos produzidos, chega-se à conclusão de que a sociedade moderna investiu demasiado em frigoríficos, máquinas de lavar loiça, carros, gruas, estradas ou equipamentos digitais, e demasiado pouco em valores intangíveis como o compromisso com os demais ou a felicidade”!

Ahh, como somos tantos a estar de acordo com MST! Porque é que uma maioria não consegue decidir o rumo do seu próprio país e se deixa governar por pessoas que acabam por defender interesses minoritários de um capitalismo sem escrúpulos?!

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A máquina sexual feminina e a linguagem - Crónica 41

A sexualidade feminina contribuiu decisivamente para o desenvolvimento da linguagem. Parece uma crónica tirada da ‘Caderneta de cromos’ do Nuno Markl, mas não é! Na verdade tem uma ampla base científica o que a seguir vou transmitir (numa adaptação dos textos do divulgador científico espanhol, Eduardo Punset). E começa bem, mas não tirem conclusões antecipadas: “a fêmea humana é a que mais tempo desperdiça em praticar sexo em todo o planeta”. O termo ‘desperdiça’, empregado por ele, será aqui uma questão de opinião, pensarão algumas! Mas é que, ao contrário de todos os outros animais, os hominídeos fêmea eliminaram “a informação que poupava tempo, ocultando o momento da sua ovulação - o sinal de ‘estou pronta para o sexo’. É como se a mulher, para conseguir tempo do homem, se negasse a dar essa informação correcta ou tivesse evoluído para não poder dá-la. (…) A mulher necessitou que o homem lhe dedicasse tempo, porque o tempo se traduz em energia, em aprovisionamento, em carne, em ajuda com os filhos (neste aspecto, é provável que alguma leitora já esteja a esboçar um sorriso)… Em lugar de sinalizar a ovulação durante um período breve, ocultou-a e, em lugar de evitar a coincidência do seu ciclo com o resto de mulheres, passou a sincronizar inclusive a ovulação (para acabar com a competição) … o pior custo para a mulher é que teve que converter-se numa máquina sexual a todas as horas. Assim, a mulher evoluiu para poder praticar sexo em qualquer momento do seu ciclo hormonal”.
“Esta revolução sexual levada a cabo pelas fêmeas nos alvores da nossa evolução como espécie estaria na raiz do nascimento do conjunto de leis que deram segurança ao grupo, reduziram o stress e a desconfiança e fizeram possível a aparição da linguagem”! A‘Eva’ levou a água ao seu moínho e a traição da maçã foi por uma boa causa...