Confesso que não sei como se tem vivido esta crise estrutural em Portugal (tenho pouco acesso aos media de aí). Na Grécia, as contas públicas rebentaram (péssima gestão e manipulação de números no passado); na Hungria, também (inesperadamente?! e pelas mesmas razões); Espanha, está no limbo: a situação económica é muito grave e o índice bolsista despenhou-se 3,8% num só dia! Portugal parece ser o próximo da lista, na mira dos observadores internacionais.
Um relatório da Caritas (baseado num estudo de 2007-09) estima em 9 milhões (um milhão só desde o início da crise) o número de pobres em Espanha – pessoas que vivem com menos de 6.000 euros anuais.
Aqui (Espanha), discute-se a ‘redução salarial’ proposta pelo governo, o imposto sobre fortunas e os ‘pagamentos aos políticos’. Em relação a esta questão, sabemos que, em geral, foi decidido um decréscimo de 10% para os cargos mais altos (ainda que alguns autarcas tenham torcido o nariz e outros se tenham antecipado). Ainda assim, pedem-se eleições antecipadas e procuram-se politicos de ‘elíte’ (equivalente a dizer ‘melhor pagos’)!!! Sobre isto, penso que o verdadeiro e honrado politico é aquele que se dispõe a lutar pelo desenvolvimento do seu país, inedpendentemente de quanto lhe pagam. Para tais pessoas o dinheiro não será o mais importante, mas sim a honradez, sentido patriótico e algo de prestígio. Para a falácia de que ‘há que pagar mais aos melhores’, respondo com:
a) os ‘melhores’ também falham, por vezes de forma mais clamorosa, outras vezes com decepcionantes envolvimentos ilícitos (não há heróis, nem entre treinadores de futebol, nem entre politicos!);
b) indexação dos salários de politicos e altos cargos ao salário mínimo (ou médio) nacional, numa relação máxima de 1 para 10 – considero que nenhum politico vale mais que 10 vezes um cidadão comum, apesar de ter mais responsabilidades;
c) estabelecimento de uma base fixa para estes salários e de uma componente variável, função dos resultados (quantitativos e qualitativos) da sua governação (sem cair no extremo oposto, a que aludi em ‘limites ao crescimento’, Crónica 13, de 19.03.09), como forma de responsabilização directa.
O imposto sobre os ‘ricos’, foi estabelecido para rendimentos acima de 100.000 euros anuais. Outra coisa é aplicá-lo! Nem sequer se ouviu algum ‘rico’ queixar-se publicamente (Botín, presidente de um dos maiores bancos espanhóis disse, em tom de chacota e indisfarçável orgulho saloio, qualquer coisa como “com ou sem crise … os verdadeiros ricos somos apenas uma meia dúzia”), mas foi do próprio governo que sairam várias desculpas para manter o plano em stand by … ele é que os capitais fogem para o estrangeiro, que não favorece o investimento … E os ‘ricos’ continuam na maior! Um imposto de 15.000 euros sobre uma fortuna (caso se aplicasse 15% sobre 100.000) é mais importante (para as centenas, ou milhares, que a auferem) do que a viabiliadade de uma nação e do que a miséria de 9 milhões de almas que se amanham como podem para ter esperança no mês seguinte?!? E isto depois de terem sido os estados (ou seja, os contribuintes) a financiar os problemas financeiros dessas grandes empresas que seguramente mantiveram os exorbitantes niveis salariais dos seus altos dirigentes !?! Esses ‘ricos’ não fazem cá falta … A questão é que os países de destino dessas fortunas deveriam aplicar o mesmo imposto (os paraísos fiscais já nem deviam existir porque foram criados em locais ‘fora de rota’ para estimular a sua actividade, mas hoje em dia já nada está fora de rota).
O não à ‘redução salarial’ dos funcionários espanhóis (-5%), à beira de greves gerais, também me estranha. Estamos ou não todos no mesmo barco? Claro que o exemplo tem que começar de cima, pelos politicos, pelas grandes fortunas, pelos dirigentes. Claro também que não se pode tocar nos parcos rendimentos dos mais vulneráveis. Neste aspecto, os alemães dão-nos lições de solidariedade (várias vezes aceitaram redução de salários e de tempo de trabalho para não perder empregos). Nos países latinos? Nunca vi! Um programa espanhol de rádio (Inter-economia, a 5 de Junho) quase incitava à ‘rebelião’ e perguntava-se ‘como nos deixamos dormir perante esta situação’ …. Eu pergunto: como é que só agora é que acordamos? Mas, se ‘os culpados somos todos nós’ (volto à Crónica 14 de 23.03.09…)! Enquanto viamos a economia crescer e consumiamos como loucos insaciáveis, não deveriamos ter perguntado às nossas consciências e aos nossos dirigentes ‘até onde é que isto vai parar?!’
segunda-feira, 7 de junho de 2010
Crise em Espanha - Crónica 26
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