terça-feira, 14 de setembro de 2010

A ilusória felicidade dos ricos - Crónica 33

Especialistas da Universidade de Princeton determinaram agora que um nível de vencimentos anual igual a 58 mil euros é aquele que permite a ‘felicidade’: segundo os ‘doutores’, um valor superior traz-nos problemas e gera stress; e valores inferiores não chegam para satisfazer certos ‘desejos’ (in Punto Rádio, 09.09.10). Segundo o ‘Índice Planeta Feliz’ de 2006 (da Fundação Nova Economia), os países ricos do norte da América e Europa apresentam os mais altos índices de felicidade -“Muito feliz”. Dinamarca e Suiça encabeçam a lista. Estudos demonstraram uma relação directa entre o nível de educação de uma população e a sua felicidade. Poderíamos intuir aqui, também, uma relação entre riqueza material e felicidade. No entanto, alguns estados insulares (ilhas das Caraíbas, Malta, Seychelles, ilhas do Pacífico), além dos Emiratos Árabes, a Nova Zelândia, a Malásia e o Butão, nem todos denominados de ‘ricos’, surgem também entre os 25 primeiros. A China apresenta um rating de “Feliz”, numa fase de extremo frenesim económico (e maior de degradação ambiental), contraditório com a tradicional prática do Tai Chi, com os ditames confucionistas e as filosofias budistas, e com o velho provérbio: “Se queres um ano de prosperidade, planta trigo. Se queres dez anos de prosperidade, planta árvores. Se queres cem anos de prosperidade, educa as pessoas”. Portugal, de acordo com o Índice referido, surge com uma população apenas “Satisfeita”, ao lado de países africanos e da Europa de Leste/ex União Soviética. Neste cantinho da Europa talvez uma minoria de uns 5% chegue a alcançar o almejado valor anual (58 mil euros), mas não será certo que os outros 95% da população activa sejam infelizes. Exemplar, é o caso do Butão: designado por ‘último paraíso terrestre’, o governo deste ‘país das plantas medicinais’ (tem 600 espécies identificadas), “desenvolveu e aplicou o conceito inovador de ‘Felicidade Interna Bruta’, por considerar que o bem-estar emocional da população é mais importante do que o desenvolvimento material… Um indicador que bem poderia servir de exemplo às sociedades ditas ‘avançadas’ do ocidente. Em 2004, o Butão tornou-se no primeiro país a banir o fumo e a venda de tabaco; a sua capital, Thimphu, é a única do mundo sem semáforos” (do meu livro ‘Os novos exploradores e a aventura dos sentidos’). O divulgador científico Eduardo Punset (em ‘Porque somos como somos’), aponta uma relação clara entre ‘desenvolvimento’ e ‘suicídio’ (que é como quem diz ‘infelicidade’): “Dizem as estatísticas que o número de suicídios entre adolescentes nas sociedades ricas triplicou na última década”. Segundo Acarin (um especialista em neurologia citado), a vida era muito mais dura no Paleolítico, do ponto de vista afectivo, «passava-se fome, a sobrevivência era difícil, fazia frio, nem sempre havia fogo… mas não havia suicídios». Os primeiros grandes antropólogos dos finais do séc. XIX corroboraram esta ideia quando «estudaram tribos que viviam como no Paleolítico e constataram que nelas o suicídio era uma prática inexistente». “Ao contrário, quanto mais ‘desenvolvida’ é uma sociedade do ponto de vista tecnológico, maior é a taxa de suicídios de adultos ou de adolescentes e maiores são também os problemas pseudo-suicídas, como a adição às drogas ou ao álcool, e as condutas autodestrutivas”. Punset mostra como a felicidade é a ausência de medo, sendo a segurança uma condição para tal. Albert Schweitzer disse, com dose de humor: “A felicidade não é mais que a soma de uma boa saúde e uma má memória”. Para o Dalai Lama, o que mais o surpreende na Humanidade são… os homens, “porque perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem o presente de tal forma que acabam por não viver nem o presente nem o futuro. E vivem como se nunca fossem morrer… e morrem como se nunca tivessem vivido”. Nos dias de hoje, felicidade para um paquistanês pode ser um prato de arroz ao final do dia; e para um religioso, um anacoreta, um budista meditativo, cujos estados de alma mal compreendemos, aquela mesma felicidade está totalmente desligada dos ganhos materiais. Recordo com saudade uma frase da minha avó: “Rico não é o que mais tem, senão o que menos necessita”. Ai, estes americanos!!!

1 comentário:

Anónimo disse...

Então a tua avó, sabia Shakespeare: "Não é mais rico o que mais tem, senão o que menos necessita"
"Sofremos demasiado pelo pouco que nos falta e gozamos pouco
o muito que temos".