Nem de propósito! Depois de em Wall Street se ter levantado, de novo, o fantasma dos prémios dos executivos de grandes empresas financeiras americanas intervencionados com dinheiros públicos no inicio da actual crise internacional – foi estimado em 104 mil milhões de Euros o valor dos ganhos em prémios pelos executivos das empresas da maior praça bolsista do mundo, o que representa 4% mais dos que no ano de 2009 que já tinha sido um recorde (TVE1, 13.10.10); e depois daquele e-mail que circulou por aí mostrando como 20 administradores de empresas públicas portuguesas (vinte, enfatizo) recebem 52,8 milhões de euros por ano (desde os 58,8 mil euros/mês do administrador da Carris aos 371 mil/mês do administrador da CGD e aos 420 mil do da TAP, mais prémios, 13º mês e subsídios), o suficiente para dar emprego a 4.190 funcionários públicos (a 900 euros/mês, ou a 6.285 pessoas se recebessem 600€/mês, que é mais que o salário mínimo)! Quem fez circular este e-mail exclamava no final: “E depois ainda querem saber se a malta está disposta a abdicar do subsídio de férias e/ou Natal para ajudar o país…”; e considerava ‘escandalosos’ e ‘ofensivos’ os salários pagos pela RTP aos seus directores e jornalistas, uma empresa financiada com dinheiro dos contribuintes e que dá prejuízo (José Alberto Carvalho, como director de informação, tem um vencimento ilíquido, e sem contar com as ajudas de custos, de 15.999 euros por mês)! A EDP ficava fora desta lista, mas o seu administrador, António Mexia, esteve recentemente na televisão a tentar explicar o inexplicável: a barbaridade que representa o volume recorde dos prémios que recebeu… O governo vem, só agora, proibir a acumulação de vencimentos e pensões na função pública. Como é que isto foi possível até hoje? Se a medida se destinasse a ‘povinho’ provavelmente teria efeitos retroactivos, mas sendo para a classe dirigente…
Depois destes dados, dizia, a RTP1 (em Jornal da Tarde de 10.11.10) entrevistou uma funcionária do sistema fiscal suíço. Vejam só: na Suíça, o máximo que uma pessoa pode receber de reforma são 1.700 euros por mês (considerado o suficiente para uma vida condigna), para além de eventuais benefícios a titulo privados. O Estado garante, desta forma, o essencial aos mais necessitados. Democratizando o sistema sem comprometer o orçamento da segurança social. Afinal aquilo que eu defendia, como se recordarão os que comigo falaram sobre o tema! Por cá, continuamos a viver no ‘País das maravilhas’!!!
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
A nova pobreza II - Crónica 37
(continuação da anterior)
Se é verdade que existe uma relação tão directa entre riqueza, consumo e poluição (ver crónica 17, de 19.07.09), que domina a sociedade ocidental actual, então, também a cada pessoa devia estar associada uma quota de consumo/poluição (tal como existe a nível de certos países, no caso da poluição, no caso da produção de leite ou cereais, ou no caso das capturas piscícolas), dentro da qual estaria permito ‘respirar’ a qualquer um, independentemente dos seus rendimentos. No caso dos impostos e dos preços dos serviços básicos (água, luz, habitação, etc.) é necessário criar uma ‘bolsa de ar’, um escalão mínimo dentro do qual nenhum cidadão (desempregados, reformados, trabalhadores temporários, os que auferem salários mínimos) tenha que agonizar para se manter à tona de água. Para lá daquela quota, a cobrança de bens e serviços (
sobretudo se resultam poluentes) far-se-ia numa proporcionalidade crescente. Quem mais consome/polui, mais paga! O problema é que isto vai contra toda a lógica capitalista de maximização do consumo: quanto mais consomes mais barato te sai o preço unitário. A própria UE apoiava, através da sua politica agrícola comum, as explorações agrícolas em função da sua produtividade, beneficiando os maiores (porque mais facilmente diluem os custos unitários). Ora, se já são grandes e produtivas para que é que necessitam de apoios?! “… a indústria alimentar à escala global está estruturada para favorecer uma produção muito abundante e a baixo custo, e os fabricantes de alimentos, as empresas de transporte de longa distância, os gigantes do fast food, as empresas publicitárias, os supermercados e os produtores industriais (os defensores do status) têm interesse em que as coisas continuem como estão. Na maior parte dos países, os sistemas de subsídios, as regulamentações e as fileiras de abastecimento estão contra o produtor que se rege pelas normas do movimento Slow (…) os métodos agrícolas actuais são claramente insustentáveis. A agricultura industrial destrói o meio ambiente. Hoje, alguns especialistas crêem que a melhor maneira de alimentar o mundo é voltar à agricultura e criação de gado mista de pequena escala, que permite um equilíbrio, respeitoso com o meio ambiente, entre colheitas e gado. Em 2003, a UE por fim acordou reformar a sua politica agrícola comum para recompensar os agricultores mais pela qualidade que pela quantidade da sua produção, assim como pela salvaguarda do meio ambiente” (por Carl Honoré em ‘Elogio de la lentitud’).
A imprensa espanhola surpreendia-se com a alta taxa da população do país, a mais elevada da Europa, que investe na compra de casa própria! Mas o que é que esperavam, quando o valor mensal de um arrendamento é idêntico ao da hipoteca a pagar ao banco?! Facilmente se encontrarão estatísticas que mostram que o peso dos gastos com a habitação no orçamento das famílias, que passou de uns 15% há umas décadas para próximo dos 50% actualmente. As casas modernas têm rendas incomportáveis para a maioria (paralelamente, observo o aumento do número de pessoas que passou a viver em auto-caravanas). A habitação é um bem essencial e, como tal, para que os cada vez mais aflitos possam ter acesso a ela, este sector devia estar sujeito a uma regulação bastante mais estrita.
O consagrado escritor Amin Maalouf disse que a geração jovem de hoje será provavelmente a primeira da história que vai viver em piores condições que a anterior. Agora digam lá, qual é a ‘lógica’ mais lógica?! A máxima capitalista que beneficia poucos e grandes, ou uma lógica mais social e justa que tente não excluir e não deixar ninguém com a corda na garganta!?
Designado por ‘último paraíso terrestre’, o caso do Butão é exemplar: “o governo deste ‘país das plantas medicinais’ desenvolveu e aplicou o conceito inovador de ‘Felicidade Interna Bruta’, por considerar que o bem-estar emocional da população é mais importante do que o desenvolvimento material…”, escrevi na crónica 33 (de 14.09.10). A China, por sua vez, que não tem sido nenhum exemplo, anunciou recentemente que o objectivo das novas políticas do governo para os próximos 5 anos é o de reduzir a diferença entre ricos e pobres. Vamos lá a ver se o grande dragão asiático dá uma lição ao Ocidente.
Se é verdade que existe uma relação tão directa entre riqueza, consumo e poluição (ver crónica 17, de 19.07.09), que domina a sociedade ocidental actual, então, também a cada pessoa devia estar associada uma quota de consumo/poluição (tal como existe a nível de certos países, no caso da poluição, no caso da produção de leite ou cereais, ou no caso das capturas piscícolas), dentro da qual estaria permito ‘respirar’ a qualquer um, independentemente dos seus rendimentos. No caso dos impostos e dos preços dos serviços básicos (água, luz, habitação, etc.) é necessário criar uma ‘bolsa de ar’, um escalão mínimo dentro do qual nenhum cidadão (desempregados, reformados, trabalhadores temporários, os que auferem salários mínimos) tenha que agonizar para se manter à tona de água. Para lá daquela quota, a cobrança de bens e serviços (

A imprensa espanhola surpreendia-se com a alta taxa da população do país, a mais elevada da Europa, que investe na compra de casa própria! Mas o que é que esperavam, quando o valor mensal de um arrendamento é idêntico ao da hipoteca a pagar ao banco?! Facilmente se encontrarão estatísticas que mostram que o peso dos gastos com a habitação no orçamento das famílias, que passou de uns 15% há umas décadas para próximo dos 50% actualmente. As casas modernas têm rendas incomportáveis para a maioria (paralelamente, observo o aumento do número de pessoas que passou a viver em auto-caravanas). A habitação é um bem essencial e, como tal, para que os cada vez mais aflitos possam ter acesso a ela, este sector devia estar sujeito a uma regulação bastante mais estrita.
O consagrado escritor Amin Maalouf disse que a geração jovem de hoje será provavelmente a primeira da história que vai viver em piores condições que a anterior. Agora digam lá, qual é a ‘lógica’ mais lógica?! A máxima capitalista que beneficia poucos e grandes, ou uma lógica mais social e justa que tente não excluir e não deixar ninguém com a corda na garganta!?
Designado por ‘último paraíso terrestre’, o caso do Butão é exemplar: “o governo deste ‘país das plantas medicinais’ desenvolveu e aplicou o conceito inovador de ‘Felicidade Interna Bruta’, por considerar que o bem-estar emocional da população é mais importante do que o desenvolvimento material…”, escrevi na crónica 33 (de 14.09.10). A China, por sua vez, que não tem sido nenhum exemplo, anunciou recentemente que o objectivo das novas políticas do governo para os próximos 5 anos é o de reduzir a diferença entre ricos e pobres. Vamos lá a ver se o grande dragão asiático dá uma lição ao Ocidente.
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quarta-feira, 6 de outubro de 2010
A nova pobreza - Crónica 36
Ser pobre em França pode ser enganador para um português, já que a fasquia está colocada cerca dos 900euros/mês (o salário mínimo), mas não é menos certo que por todo o lado cresce o número de pessoas com ‘a corda na garganta’. Os frios números de Setembro disseram que nos Estados Unidos da América 14% da população (uns 35 milhões de habitantes) está a viver num nível de pobreza (recebe menos de 10.800 USD/ano). Em França, 13% da população (8 milhões) vive no limiar da pobreza. Em Espanha, o desemprego chegou aos 21% (mais de 4,5 milhões de pessoas); ali, fala-se de uma geração perdida, os ‘Ninis’ (não estudam e não trabalham, e um de cada 4 deles nem deseja fazê-lo), que representam 14% da população juvenil (15-24 anos). Roménia e Bulgária são outros dos países europeus onde o desemprego atinge cifras da ordem dos 20%...
Passados tantos séculos, parece que as sociedades modernas continuam a padecer dos males que afectavam a época dos imperadores romanos, do séc. II d.C.: “Parte dos nossos males provém de que há demasiados homens vergonhosamente ricos ou desesperadamente pobres” (Marguerite Yourcenar, em ‘Memórias de Adriano’). E isto é tão básico que me custa compreender que apenas aqueles que têm uma preocupação extrema com a acumulação de dinheiro (e de prestigio petulante), como empresários e políticos, não vêem! Alguém me respondeu que sempre existirão ricos e pobres: de acordo, não contesto, até porque existem pessoas que fazem questão de viver com pouco ou de não trabalhar! A dúvida coloca-se na amplitude de tal diferença, no exagero da diferença prática entre aqueles que vivem ‘demasiadamente bem’ e desperdiçam muito, e os que se ‘matam’ a trabalhar para se manterem apenas no limiar da sobrevivência!
Discordo de filosofias ‘anti-despedimento’ de esquerda (porque nem o Estado nem um empresário com iniciativa têm obrigação de alimentar um empregado que não quer trabalhar ou que o faz mal (e são muitos). Desconfio dos designados ‘direitos adquiridos’ porque isso gera acomodamento (e, em consequência, baixas produtividades e qualidade de serviço inaceitáveis e asfixiantes) e porque necessitamos manter alguma capacidade de adaptação numa sociedade em permanente mudança. Mas também penso que classe politica e sector administrativo do Estado devem ser mais responsabilizados, e remunerados em função de uma produtividade, mais qualitativa que quantitativa, de acordo com uma lógica mista (uma base fixa e uma parte variável em função dos resultados).
Os dirigentes políticos fazem questão de nos fazer crer no seu ‘patriotismo’ (uma palavra com cada vez menos significado), e de pousar a mão no peito quando escutam o hino nacional…. O Presidente Zapatero agradeceu o “esforço dos espanhóis” perante a crise e medidas paliativas do governo que lhes retiram benefícios e lhes agravam a vida. Ele recebe mais de 71.000Euros/ano (não é que seja demasiado, mas nalgumas comunidades, o rico é o que ganha mais de 80.000Euros/ano – será coincidência?!), fora os extras! Perante um país em grave crise, as elevadas percentagens de desemprego, e a quantidade de famílias a lutar pela sobrevivência, não seria elementar que esses mesmos políticos fossem os primeiros a dar o exemplo, pondo em prática o dito patriotismo, decidindo reduzir as suas regalias? Uma questão de princípio! Como se pode aceitar que os dirigentes máximos de um país decidam reduzir os parcos benefícios de alguns (refiro-me ao aumento da idade de reforma, e redução de 5% de alguns salários, no caso espanhol), sem tocar nos seus próprios (a retribuição dos políticos apenas foi ‘congelada’)?
Passados tantos séculos, parece que as sociedades modernas continuam a padecer dos males que afectavam a época dos imperadores romanos, do séc. II d.C.: “Parte dos nossos males provém de que há demasiados homens vergonhosamente ricos ou desesperadamente pobres” (Marguerite Yourcenar, em ‘Memórias de Adriano’). E isto é tão básico que me custa compreender que apenas aqueles que têm uma preocupação extrema com a acumulação de dinheiro (e de prestigio petulante), como empresários e políticos, não vêem! Alguém me respondeu que sempre existirão ricos e pobres: de acordo, não contesto, até porque existem pessoas que fazem questão de viver com pouco ou de não trabalhar! A dúvida coloca-se na amplitude de tal diferença, no exagero da diferença prática entre aqueles que vivem ‘demasiadamente bem’ e desperdiçam muito, e os que se ‘matam’ a trabalhar para se manterem apenas no limiar da sobrevivência!
Discordo de filosofias ‘anti-despedimento’ de esquerda (porque nem o Estado nem um empresário com iniciativa têm obrigação de alimentar um empregado que não quer trabalhar ou que o faz mal (e são muitos). Desconfio dos designados ‘direitos adquiridos’ porque isso gera acomodamento (e, em consequência, baixas produtividades e qualidade de serviço inaceitáveis e asfixiantes) e porque necessitamos manter alguma capacidade de adaptação numa sociedade em permanente mudança. Mas também penso que classe politica e sector administrativo do Estado devem ser mais responsabilizados, e remunerados em função de uma produtividade, mais qualitativa que quantitativa, de acordo com uma lógica mista (uma base fixa e uma parte variável em função dos resultados).
Os dirigentes políticos fazem questão de nos fazer crer no seu ‘patriotismo’ (uma palavra com cada vez menos significado), e de pousar a mão no peito quando escutam o hino nacional…. O Presidente Zapatero agradeceu o “esforço dos espanhóis” perante a crise e medidas paliativas do governo que lhes retiram benefícios e lhes agravam a vida. Ele recebe mais de 71.000Euros/ano (não é que seja demasiado, mas nalgumas comunidades, o rico é o que ganha mais de 80.000Euros/ano – será coincidência?!), fora os extras! Perante um país em grave crise, as elevadas percentagens de desemprego, e a quantidade de famílias a lutar pela sobrevivência, não seria elementar que esses mesmos políticos fossem os primeiros a dar o exemplo, pondo em prática o dito patriotismo, decidindo reduzir as suas regalias? Uma questão de princípio! Como se pode aceitar que os dirigentes máximos de um país decidam reduzir os parcos benefícios de alguns (refiro-me ao aumento da idade de reforma, e redução de 5% de alguns salários, no caso espanhol), sem tocar nos seus próprios (a retribuição dos políticos apenas foi ‘congelada’)?
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
O valor da paciência - Crónica 35
Alex, referindo-se ao ‘valor da paciência’ (programa ‘tarde em directo’, CNN+, 06.07.10), recordou um estudo de Goleman no qual várias crianças eram ‘obrigadas’ a esperar, para obter um caramelo; algumas não tinham paciência suficiente para esperar; as que o fizeram obtiveram a recompensa mais tarde; deste modo revelaram-se mais ‘maduras’, mais tolerantes e sociáveis, e como tal, possuidoras de um coeficiente emocional mais elevado. Com isto pretendia-se demonstrar que para obter certas coisas, há que merecê-las, e também justificar a imaturidade da moderna sociedade de consumo, como causa da actual crise financeira internacional: “… utilizaram dinheiro que não tinham para comprar coisas que não necessitavam e que não valiam o preço que pediam por elas…”.
Mark Twain tinha uma excelente anedota que resumia os anos da sua ‘maturação’: «Que ignorante era o meu pai quando eu tinha 14 anos. Mal podia suportá-lo. Mas quando cumpri os 21, fiquei assombrado ao descobrir o muito que ele tinha aprendido nesses sete anos».
Nos últimos anos assistimos a crianças de 5 a 11 anos de idade a baterem recordes de precocidade em provas de maratona. Em 2007, Zhang Muyuan, um menino chinês de 9 anos, tornou-se no montanhista mais jovem a coroar o cume do Kilimanjaro (5.896m. de altitude), na Tanzânia, se bem que para entrar no parque nacional os pais tiveram que mentir sobre a sua idade… O britânico Michael Perham (14 anos), bateu o recorde de precocidade de cruzar o oceano Atlântico navegando em solitário (necessitou de 46 dias para ir de Gibraltar à ilha de Antigua, nas Caraíbas). Com 13 anos, Jordan Romero, dos EUA, converteu-se no mais jovem escalador do Everest – a sua ambição nasceu aos 9 anos; com 10, subiu o Kilimanjaro, e com 11 o McKinley no Alasca (6.194 m) e o Aconcágua nos Andes (6.969 m); nascido em 1996, Jordan mantêm o plano de coroar os chamados ‘sete cumes’ dos sete continentes. Na equipa que o acompanhou estavam o seu pai, especialista em medicina e fisiologia, a sua madrasta e treinadora, e três sherpas. O adolescente explicou: “faço isto um pouco por mim, para fazer alguma coisa grande” (in www.marca.com/mas_deportes/otros_deportes.html). Este verão, em busca de um novo recorde, uma adolescente holandesa de 14 anos, partia num veleiro para uma volta ao mundo em solitário, com a autorização dos pais e o deferimento dos tribunais!!! Esperemos que não lhe suceda nada de mau…
Estas actividades, aparentemente saudáveis, são, do ponto de vista da ética dos pais das crianças, no mínimo questionáveis. É que, no afã da recompensa imediata, as pessoas esquecem-se que a maturidade se pode aproximar mais dos estados de felicidade.
Como escreveu o montanhista francês Lionel Terray, “Apenas uma longa experiência, muita observação, registada não apenas na memória, mas também no subconsciente, permite que alguns montanhistas adquiram uma espécie de instinto”. Aqui, o instinto significa também ‘maturidade’… A ciência confirma: Eduardo Punset citou o neurólogo mexicano Ranulfo Romo - «A mim, francamente, o que mais gosto não é falar perante um auditório nem tão pouco escrever os meus artigos. Gosto quando posso deter-me um instante e viver no interior do meu cérebro: é como um passeio no qual posso visitar os amigos (…) detectar detalhes (…) ver-me a mim mesmo, recuperar a vida, recreá-la…» -, para explicar que “Estas expectativas, do ponto de vista neurofisiológico, só pode cumpri-las um cérebro maduro. De aí a demonstrar – como fizeram distinguidos psiquiatras – que a maturidade é compatível com níveis de felicidade mais elevados que na juventude, não há mais que um passo que a ciência está a ponto de dar”.
Mark Twain tinha uma excelente anedota que resumia os anos da sua ‘maturação’: «Que ignorante era o meu pai quando eu tinha 14 anos. Mal podia suportá-lo. Mas quando cumpri os 21, fiquei assombrado ao descobrir o muito que ele tinha aprendido nesses sete anos».
Nos últimos anos assistimos a crianças de 5 a 11 anos de idade a baterem recordes de precocidade em provas de maratona. Em 2007, Zhang Muyuan, um menino chinês de 9 anos, tornou-se no montanhista mais jovem a coroar o cume do Kilimanjaro (5.896m. de altitude), na Tanzânia, se bem que para entrar no parque nacional os pais tiveram que mentir sobre a sua idade… O britânico Michael Perham (14 anos), bateu o recorde de precocidade de cruzar o oceano Atlântico navegando em solitário (necessitou de 46 dias para ir de Gibraltar à ilha de Antigua, nas Caraíbas). Com 13 anos, Jordan Romero, dos EUA, converteu-se no mais jovem escalador do Everest – a sua ambição nasceu aos 9 anos; com 10, subiu o Kilimanjaro, e com 11 o McKinley no Alasca (6.194 m) e o Aconcágua nos Andes (6.969 m); nascido em 1996, Jordan mantêm o plano de coroar os chamados ‘sete cumes’ dos sete continentes. Na equipa que o acompanhou estavam o seu pai, especialista em medicina e fisiologia, a sua madrasta e treinadora, e três sherpas. O adolescente explicou: “faço isto um pouco por mim, para fazer alguma coisa grande” (in www.marca.com/mas_deportes/otros_deportes.html). Este verão, em busca de um novo recorde, uma adolescente holandesa de 14 anos, partia num veleiro para uma volta ao mundo em solitário, com a autorização dos pais e o deferimento dos tribunais!!! Esperemos que não lhe suceda nada de mau…
Estas actividades, aparentemente saudáveis, são, do ponto de vista da ética dos pais das crianças, no mínimo questionáveis. É que, no afã da recompensa imediata, as pessoas esquecem-se que a maturidade se pode aproximar mais dos estados de felicidade.
Como escreveu o montanhista francês Lionel Terray, “Apenas uma longa experiência, muita observação, registada não apenas na memória, mas também no subconsciente, permite que alguns montanhistas adquiram uma espécie de instinto”. Aqui, o instinto significa também ‘maturidade’… A ciência confirma: Eduardo Punset citou o neurólogo mexicano Ranulfo Romo - «A mim, francamente, o que mais gosto não é falar perante um auditório nem tão pouco escrever os meus artigos. Gosto quando posso deter-me um instante e viver no interior do meu cérebro: é como um passeio no qual posso visitar os amigos (…) detectar detalhes (…) ver-me a mim mesmo, recuperar a vida, recreá-la…» -, para explicar que “Estas expectativas, do ponto de vista neurofisiológico, só pode cumpri-las um cérebro maduro. De aí a demonstrar – como fizeram distinguidos psiquiatras – que a maturidade é compatível com níveis de felicidade mais elevados que na juventude, não há mais que um passo que a ciência está a ponto de dar”.
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
As maiores tolices do mundo - Crónica 34
O mundo está cheio de ‘tolices’! Sempre há alguma coisa que parece tola aos olhos de alguém. O problema de definir o que é uma ‘tolice’, é que não há uma medida exacta para o senso comum. Por vezes trata-se quase de uma questão de gostos, ou seja, reduz-se a avaliações pessoais. E para os gostos estão as cores! No entanto, há atitudes e comportamentos que são alvo de comentários classificativos de muitas pessoas, oriundas de vários sectores da sociedade. Como tal, aspiram a alcançar o estatuto de ‘grande tolice’. Umas são engraçadas e ‘saudáveis’, outras dão ‘pena’ ou produzem a ‘vergonha alheia’. Há as simplesmente ‘inócuas’, e as perfeitamente ‘injustificáveis’. As piores, são as tolices ‘condenáveis’, porque prejudicam moral ou materialmente a terceiros.
Desde as
macacadas do público frente às câmaras, no Tour de France ou na Vuelta (o homem-diabo e aqueles que correm ao lado dos ciclistas, gritando-lhes aos ouvidos); ao wrestling. De qualquer intervenção da Paris Hilton, ao charuto do Isaltino de Morais (o exemplo clássico da pessoa que crê ter alcançado um ‘status’ do qual certos adereços fazem obrigatoriamente parte como símbolo); do mau gosto artístico da Lady Gagá, com ou sem 8 galardões MTV (quando se promoveu em Portugal seguramente desconhecia o significado de ‘estar gagá’!), à desculpa da ‘tradição’ para manter a ‘posse de armas’, nos EUA, ou para dar continuidade a espectáculos como os ‘touros de morte’, em Espanha e Portugal (se as tradições se tornam imorais, fora de moda, ou injustificadas, mudam-se!); e aos jogos de computador das novas consolas, tipo Wii, que não são totalmente inofensivos porque podem moldar a atitude de toda uma geração de jovens; …
Outras tolices, surgem sob a forma de perguntas: porque é que as apresentadoras de TV se sentam com mini-sáia frente à câmara, obrigando-se a cruzar as pernas de forma tão desconfortável?; ou ‘porque é que os pés dos pinguins não congelam?’ (esta deu mesmo origem a um livro).
Os exemplos são tantos e tão ricos que resolvi fazer do tema a base da minha actual tentativa de completar um livro. Nele, falo de alguns recordes de precocidade batidos por crianças de 5 a 11 anos de idade, em provas de maratona, dos excêntricos recordes do Guiness, e de concursos populares como o ‘lançamento da bota’, o ‘lançamento de legumes com zarabatana’, o campeonato de ‘comedores de urtigas’, a ‘reverse running’ (corrida para trás), o do ‘homem pássaro’ ou o famoso ‘cheese rolling’…. Analiso o fenómeno do ‘balconing’ e outras histórias de azar. Os caprichos mais vergonhosos, e os escandalosos abusos de autarcas e políticos, que normalmente deixamos cair no esquecimento… Tudo coisas tolas!
Já agora, desafio-vos a que me enviem a história daquela que, na vossa opinião, consideram a ‘Maior tolice do Mundo’ (se possível com referência a data e local do acontecimento, ou meio de comunicação onde foi divulgado), para zgiraldes@hotmail.com.
Desde as

Outras tolices, surgem sob a forma de perguntas: porque é que as apresentadoras de TV se sentam com mini-sáia frente à câmara, obrigando-se a cruzar as pernas de forma tão desconfortável?; ou ‘porque é que os pés dos pinguins não congelam?’ (esta deu mesmo origem a um livro).

Já agora, desafio-vos a que me enviem a história daquela que, na vossa opinião, consideram a ‘Maior tolice do Mundo’ (se possível com referência a data e local do acontecimento, ou meio de comunicação onde foi divulgado), para zgiraldes@hotmail.com.
terça-feira, 14 de setembro de 2010
A ilusória felicidade dos ricos - Crónica 33
Especialistas da Universidade de Princeton determinaram agora que um nível de vencimentos anual igual a 58 mil euros é aquele que permite a ‘felicidade’: segundo os ‘doutores’, um valor superior traz-nos problemas e gera stress; e valores inferiores não chegam para satisfazer certos ‘desejos’ (in Punto Rádio, 09.09.10). Segundo o ‘Índice Planeta Feliz’ de 2006 (da Fundação Nova Economia), os países ricos do norte da América e Europa apresentam os mais altos índices de felicidade -“Muito feliz”.
Dinamarca e Suiça encabeçam a lista. Estudos demonstraram uma relação directa entre o nível de educação de uma população e a sua felicidade. Poderíamos intuir aqui, também, uma relação entre riqueza material e felicidade. No entanto, alguns estados insulares (ilhas das Caraíbas, Malta, Seychelles, ilhas do Pacífico), além dos Emiratos Árabes, a Nova Zelândia, a Malásia e o Butão, nem todos denominados de ‘ricos’, surgem também entre os 25 primeiros. A China apresenta um rating de “Feliz”, numa fase de extremo frenesim económico (e maior de degradação ambiental), contraditório com a tradicional prática do Tai Chi, com os ditames confucionistas e as filosofias budistas, e com o velho provérbio: “Se queres um ano de prosperidade, planta trigo. Se queres dez anos de prosperidade, planta árvores. Se queres cem anos de prosperidade, educa as pessoas”. Portugal, de acordo com o Índice referido, surge com uma população apenas “Satisfeita”, ao lado de países africanos e da Europa de Leste/ex União Soviética. Neste cantinho da Europa talvez uma minoria de uns 5% chegue a alcançar o almejado valor anual (58 mil euros), mas não será certo que os outros 95% da população activa sejam infelizes. Exemplar, é o caso do Butão: designado por ‘último paraíso terrestre’, o governo deste ‘país das plantas medicinais’ (tem 600 espécies identificadas), “desenvolveu e aplicou o conceito inovador de ‘Felicidade Interna Bruta’, por considerar que o bem-estar emocional da população é mais importante do que o desenvolvimento material…
Um indicador que bem poderia servir de exemplo às sociedades ditas ‘avançadas’ do ocidente. Em 2004, o Butão tornou-se no primeiro país a banir o fumo e a venda de tabaco; a sua capital, Thimphu, é a única do mundo sem semáforos” (do meu livro ‘Os novos exploradores e a aventura dos sentidos’). O divulgador científico Eduardo Punset (em ‘Porque somos como somos’), aponta uma relação clara entre ‘desenvolvimento’ e ‘suicídio’ (que é como quem diz ‘infelicidade’): “Dizem as estatísticas que o número de suicídios entre adolescentes nas sociedades ricas triplicou na última década”. Segundo Acarin (um especialista em neurologia citado), a vida era muito mais dura no Paleolítico, do ponto de vista afectivo, «passava-se fome, a sobrevivência era difícil, fazia frio, nem sempre havia fogo… mas não havia suicídios». Os primeiros grandes antropólogos dos finais do séc. XIX corroboraram esta ideia quando «estudaram tribos que viviam como no Paleolítico e constataram que nelas o suicídio era uma prática inexistente». “Ao contrário, quanto mais ‘desenvolvida’ é uma sociedade do ponto de vista tecnológico, maior é a taxa de suicídios de adultos ou de adolescentes e maiores são também os problemas pseudo-suicídas, como a adição às drogas ou ao álcool, e as condutas autodestrutivas”. Punset mostra como a felicidade é a ausência de medo, sendo a segurança uma condição para tal. Albert Schweitzer disse, com dose de humor: “A felicidade não é mais que a soma de uma boa saúde e uma má memória”. Para o Dalai Lama, o que mais o surpreende na Humanidade são… os homens, “porque perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem dinheiro para recuperar a saúde.
E por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem o presente de tal forma que acabam por não viver nem o presente nem o futuro. E vivem como se nunca fossem morrer… e morrem como se nunca tivessem vivido”. Nos dias de hoje, felicidade para um paquistanês pode ser um prato de arroz ao final do dia; e para um religioso, um anacoreta, um budista meditativo, cujos estados de alma mal compreendemos, aquela mesma felicidade está totalmente desligada dos ganhos materiais. Recordo com saudade uma frase da minha avó: “Rico não é o que mais tem, senão o que menos necessita”. Ai, estes americanos!!!


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terça-feira, 7 de setembro de 2010
O maravilloso diccionário de Spanglish - Crónica 32
Os escandinavos, parece que nascem a falar o inglês, além da sua língua natal. Diz-se dos russos que têm muita facilidade em aprender as línguas latinas. Os franceses nunca deixam de ‘fazer boquinha’, o que afecta a sua pronúncia do inglês, mas falam! Os portugueses não estão mal, seja por necessidade ou pela tradicional abertura ao turismo (não falando dos anúncios nas vitrinas de cafés do Algarve, que dizem: temos “pomes frites” e “milk shek”). E os espanhóis? Este é um típico diálogo espanhol fazendo uso do spanglish:
- “Te gusta Róbé?”
- “Róbé!? Quien es Róbé?”
- “Róbé de Niro!”
‘Spanglish’ é um inglês espanholado ou a tentativa de um espanhol pronunciar a língua de Shakespeare (tipo o ‘portunhol’ para os portugueses). Após ‘longos e aturados anos de investigação’, compreendi o porquê de os espanhóis não falarem inglês! Aqui ficam exemplos curiosos, assim mesmo pronunciados por locutores e apresentadores de televisão:
- ái lób blú lagún = I love Blue Laggon
- bán = bank (como Barclays Bank)
- bódafôn (ou bodafão) = Vodafone
- bru-has (escreve-se brujas, significa ‘bruxas’) = Brujes (a cidade belga)
- budi = Woody (de Woody Allen ou Woodpecker)
- bé-chéler = best seller
- campo através = cross country (das corridas de bicicleta de montanha)
- colgátê = Colgate (a pasta de dentes)
- dáu iónch = Dow Jones (o índice bolsista americano)
- djãe = Yen (a moeda japonesa)
- éstin = Sting (o músico)
- estugár = Stuttgart
- fran-fur = Frankfurt
- gu-éb = web (de www.)
- issébér (no plural issébérés) = iceberg
- Iú-és-ei, iú-és-ei! = USA, USA!
- kin = King (de Burger King)
- koráibê = Kollschreiber (o jogador de ténis alemão … o pobre!)
- lái = light (de coca-cola light)
- liéchéchtãi = Liechtenstein
- mítin = meeting (no plural é ainda melhor: 'mítines'!)
- néslé = Nestlé
- õlái = online
- ón kón (ou ‘hón’, com o ‘h’ arranhando a garganta, como um ‘r’, à holandesa) = Hong Kong
- péssi = Pepsi
- pêujót = Peugeot
- pi ni = pic nic
- pin pon = ping pong
- quis-buhrrel = Kitzbuehel (região na Austria)
- renól = Renault
- róbé = Robert de Niro
- sang-uík = sandwich
- sáuwér = software
- super éstronguér = super strong (no anúncio da Quatro)
- uán-car-lós (ler ‘Juan Carlos’, como o rei) = one car lost
- uól éstrit iournal = Wall Street Journal
- uikilís = Wikileaks (a famigerada página da internet)
E a última pérola... clin istbud = Clint Eastwood!!!
Eu voto na ‘issébérés’! Como pronunciarão… boogie-woogie !?
- “Te gusta Róbé?”
- “Róbé!? Quien es Róbé?”
- “Róbé de Niro!”
- ái lób blú lagún = I love Blue Laggon
- bán = bank (como Barclays Bank)
- bódafôn (ou bodafão) = Vodafone
- bru-has (escreve-se brujas, significa ‘bruxas’) = Brujes (a cidade belga)
- budi = Woody (de Woody Allen ou Woodpecker)
- bé-chéler = best seller
- campo através = cross country (das corridas de bicicleta de montanha)
- colgátê = Colgate (a pasta de dentes)
- dáu iónch = Dow Jones (o índice bolsista americano)
- djãe = Yen (a moeda japonesa)
- éstin = Sting (o músico)
- estugár = Stuttgart
- fran-fur = Frankfurt
- gu-éb = web (de www.)
- issébér (no plural issébérés) = iceberg
- Iú-és-ei, iú-és-ei! = USA, USA!
- kin = King (de Burger King)
- koráibê = Kollschreiber (o jogador de ténis alemão … o pobre!)
- lái = light (de coca-cola light)
- liéchéchtãi = Liechtenstein
- mítin = meeting (no plural é ainda melhor: 'mítines'!)
- néslé = Nestlé
- õlái = online
- ón kón (ou ‘hón’, com o ‘h’ arranhando a garganta, como um ‘r’, à holandesa) = Hong Kong
- péssi = Pepsi
- pêujót = Peugeot
- pi ni = pic nic
- pin pon = ping pong
- quis-buhrrel = Kitzbuehel (região na Austria)
- renól = Renault
- róbé = Robert de Niro
- sang-uík = sandwich
- sáuwér = software
- super éstronguér = super strong (no anúncio da Quatro)
- uán-car-lós (ler ‘Juan Carlos’, como o rei) = one car lost
- uól éstrit iournal = Wall Street Journal
- uikilís = Wikileaks (a famigerada página da internet)
E a última pérola... clin istbud = Clint Eastwood!!!
Eu voto na ‘issébérés’! Como pronunciarão… boogie-woogie !?
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