Especialmente em tempos de crise acentuada, sobressaem os valores equivocados de uma sociedade. O capitalismo, se por um lado deixa realçar algumas das melhores caracteristicas do homem (iniciativa, engenhosidade, visão), por outro lado, sobretudo na sua faceta neo liberal, deixa ressaltar o pior das caracteristicas humanas (vaidade, ostentação, capricho, inveja, ganância, avareza, injustiça, desigualdade, …).
O Presidente da FPF, Gilberto Madail, veio à televisão pedir ‘desculpas’ aos portugueses pela derrota de 6-2 da selecção nacional contra a congénere brasileira. Na selecção inglesa de cricket falou-se de ‘vergonha nacional’ pela derrota a zero com a selecção das West Indies. Jornalistas do canal CNN deram mais de 10 minutos seguidos (fora as repetições) de tempo de antena, chamaram-lhe ‘top story’ e utilizaram expressões como ‘astonishing’ e ‘chocante’ para retratar o despedimento súbito de Luis Filipe Scolari das suas funções de treinador da equipa inglesa de futebol, Chelsea !?!?! Isto não é um exagero ? Trata-se apenas de um jogo. Porque é que se deposita o orgulho nacional num jogo e não na condição de vida das familias desfavorecidas.
Sempre gostei de futebol. De jogar e de assistir a ‘matches’ importantes. Mas recuso-me a discutir futebol. Penso que nenhum desporto deve merecer tanta atenção, ao ponto de entrar em detalhes ridiculos do tipo ‘o Figo constipou-se’ ou ‘Sá Pinto comeu um bife com molho de cogumelos…’. Penso que este desporto, como qualquer outro, não dever receber mais atenção do que outros assuntos sociais mais sérios e importantes, quando há pessoas a viver na miséria e, sobretudo em tempos de crise, quando estas situações se multiplicam e um crescente número de desempregados será forçado a enfrentar desafios de sobrevivência. Tal como muita gente, surpreendo-me com o tempo de antena que o futebol recebe nas televisões. Ou, quando este tema serve de noticia de abertura de qualquer serviço noticioso … Os jornalistas e os responsáveis de programação dos canais televisivos tem responsabilidades elevadas nesta matéria. E a desculpa de que ‘damos o que o público quer receber’, simplesmente não pega! Porque há públicos para tudo e muito público consome e aceita muito do que se lhe dá. Muitas vezes independentemente da qualidade, simplesmente porque é o que há no momento. Se se tratar de um mau filme de cinema ou de um artista musical de qualidade duvidosa, desde que bem promovido na televisão, será geralmente aceite.
Há uns anos, o número de casas de habitação em Portugal representava uma média de 3 casas por habitante. Pense-se no número de pessoas que não tem casa própria para imaginar o número de casas que podem chegar a ter apenas algumas pessoas … !!! Simultâneamente, têem-se ouvido noticias de gastos elevadissimos em bens materiais que não representam mais do que caprichos infantis para quem os adquire e significam a verdadeira vergonha para quem nunca poderá aspirar a ganhar esses valores numa vida e pode chegar a ter dificuldades para pagar uma alimentação adequada. Eis exemplos desses gastos, dos quais estou a reunir uma súmula para um eventual livro, a que chamarei "As maiores tolices do mundo": 200.000 euros - valor gasto no equipamento de uma cozinha por um casal alemão (Jan.09); 1,1 milhões de dólares - valor pago pela aquisição de um quadro de Vladimir Putin (representando uma janela); 14 milhões de dólares - valor pago pela matricula automóvel com o número ‘1’, nos EUA; 155.000 dólares – valor pago por uma familia pelo clone do seu cão Lancelot; 87.000 dólares – valor gasto num tapete pelo CEO da Merryl Linch, banco que faliu e pertence agora ao Bank of America (não admira … !!!). Para não falar do escândalo dos bónus que receberam altos quadros dos bancos e empresas americanas em dificuldades, com dinheiro dos contribuintes … !?!
Se o jornalismo pretende aspirar a ter um papel sério na contribuição para a justiça numa nação, é nos temas sociais que realmente caracterizam uma sociedade que deve investir mais tempo. Investigando, chamando a atenção para situações de pessoas em dificuldades e deixando de retratar algumas excentricidades com deferência submissa, mas salientando o seu lado repulsivo. A bem de valores mais nobres e da justiça social …
segunda-feira, 2 de março de 2009
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