"As árvores não crescem até ao céu", era uma metáfora que se escutava com frequência da boca dos entendidos da Bolsa de Valores. Significa que o valor das acções não aumenta indefinidamente. Tal como as árvores e as acções da Bolsa, também as economias do mundo não o fazem. E tanto mais perigoso se torna o processo quando essas economias crescem a taxas elevadas porque será mais dificil manter esses niveis de crescimento.
O nivel elevado de crescimento de uma economia só é ‘sustentável’ enquanto existir ‘combustível’ para o alimentar (nesta caso o combustível são os consumidores). Nas economias ocidentais, em que uma elevada percentagem da população já tem um pouco de tudo o que é oferecido pelo mercado (qualquer ‘careta’ tem um Mercedes, se quiser), o que faz falta para alimentar os delirios megalómanos de empresários insaciáveis e a visão limitada de politicos irresponsáveis, é criar novos consumidores (ou aumentar o nível de consumo, recorrendo ao endividamento por exemplo). Para tal assistimos a estratégias e apelos descabelados ao consumismo: "because some of us were born to shop" (‘porque alguns de nós nasceram para fazer compras’ !!!), é a solução da Fly Emirates; incentivos à natalidade, é a politica de empresas japonesas; …
A CNN noticiou criticas generalizadas à suposta sumptuosa festa de aniversário do líder governamental do Zimbabué, Robert Mugabe, numa altura em que o seu povo atravessa momentos de extrema carência … Mas o que fazem alguns governos de economias capitalistas do ocidente não é exactamente o mesmo, só que numa outra dimensão ? A classe politica (em especial ao nivel das autarquias) vive um dia-a-dia de luxo, enquanto inúmeras familias lutam pela sobrevivência …. O ‘G7’ representa a maior contradição (e uma face ‘horrenda’) deste mesmo sistema materialista. O que é que os 7 países mais ricos do mundo vão discutir quando se juntam, senão a forma de perpetuar o seu status, ou aumentar a sua riqueza !?! Como ajudar os países pobres ? Neste caso não tinham porque se juntar apenas os 7 mais ricos, pois não !?
O mundo capitalista, com os países anglo-saxónicos (EUA em especial) à cabeça, admira e premeia a posse de riqueza pessoal (não importa como), como se isso fosse o mais alto ‘valor’ a que se pode aspirar (a revista Forbes apresentou a lista dos novos bilionários, incluindo um dealer de droga mexicano !?! – o 700º mais rico do mundo). Temos um exemplo muito melhor de equilibrio e justiça social, vindo dos países nórdicos, e o mundo não tem porque seguir o exemplo dos EUA apenas porque eles são … mais espalhafatosos !
Vivemos num sistema em que os ‘poderosos’ tentam manter o seu status. O anti-proteccionismo (que os EUA tanto apregoam) é apenas mais uma arma das grandes potências económicas à disposição das suas multinacionais para o conseguir (entrando em novos mercados e aumentando as vendas). Mas onde é que está a justiça de uma mega-corporação (eventualmente ajudada pelo seu governo) entrar num pequeno país a concorrer com empresas de pequena dimensão aí existentes ???
O sistema alimenta-se a si próprio à custa de mais consumidores ou de mais consumo, num ciclo vicioso tipo Dona Branca, em que os últimos ficam a perder. Neste momento parece que ainda falta para se chegar aos ‘últimos’ pois das economias ‘emergentes’ surgem novas vagas de consumidores sedentos. O problema está no lado dos recursos: por um lado estima-se o limíte de alguns recursos naturais e por outro, a sobre-exploração dos mesmos acelera exponencialmente o processo de degradação do planeta …
A Dona Branca foi presa. O Bernard Madoff também. Mas o ciclo vicioso em que cairam as economias ocidentais é exactamente o mesmo … Ou seja, estão a ser apressadamente esgotados os recursos naturais que poderiam assegurar um futuro mais tranquilo, para alimentar a riqueza desmesurada de uns poucos no presente (ignorando que esses recursos deviam pertencer a todos). Em Londres, um musico bem vestido faz chacota da situação de crise internacional actual, tocando violino na rua para obter ‘gorgeta’ e expondo um cartaz elucidativo onde se lê: ‘tenho um yacht caro para sustentar…’, como quem diz com ironia clara, "por favor alimentem o meu vicio…".
Em vez de encorajar o consumismo (alimento do ego e do capricho de alguns), não seria o momento de dar atenção à ‘consciência social’ e de repensar o nosso padrão de consumo reflectindo sobre a espiral depredatória do planeta e sobre as vantagens da distribuição mais equitativa, e comedida, da riqueza ?
quinta-feira, 19 de março de 2009
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