Tesouro esquecido:
Na
grande figueira sobre a falésia da praia do Camilo, eu e outro homem estamos
empoleirados a colher figos. A mulher deste pergunta ingenuamente: “não será
crime?”. Crime é deixá-los cair de podres, respondo eu para o ar. Noutra
figueira próxima, igualmente bem abastecida, as ramagens tocam o chão e entre
elas, muito papel higiénico!
Ou
seja, o tesouro que as pessoas descobriram nestas árvores não é o do néctar que
ela nos oferece uma vez por ano mas sim o de refúgio para largar as
necessidades… (mesmo que depois comprem o quilo a 5 e 6 euros no supermercado)!
Costa
de Lagos:
Um
novo comandante da Polícia Maritima do Barlavento foi empossado há uma semana,
em Portimão. Diz ele que vai manter “tudo igual”.
Semanas
antes ouvi por interposta pessoa que um oficial da Marinha se referira ao
projecto Paraguaçú de travessia oceanica com um desdenhoso: essas coisas “só
nos dão é trabalho”. Pois eu também acho que a Marinha custa muito trabalho ao
país! Sabe-se muito pouco daquilo que fazem para além do que gastam em manter
onerosas frotas e oficiais em excesso com demasiadas regalias.
O
que aquele novo comandante no fundo veio dizer foi: “não vou fazer nada”! Pois
eu gostaria muito de deitar mão ao caos que vai na costa de Lagos à conta dos
barcos turisticos: a primeira medida seria estabelecer cinturas de circulação
com distâncias crescentes relativas às zonas de banhistas, de acordo com a potência dos
motores e número de pessoas que transportam. Quanto mais barulhentos mais longe
das praias…
Pobres
e ecológicos:
No
final da ponte estava um homem sentado no chão, boné e muletas ao lado, a
mendigar. Despreocupado, lançou uns papéis ao rio! Quis intervir, dizendo “não
era preciso fazer isso…”, mas imediatamente me detive. Claro que ao pobre
homem, preocupado em sobreviver mais um dia, a poluição e o ambiente não o
preocupam. Isso deve ser ‘coisa de ricos’, pensará ele. E tem a sua razão! Como
queremos educar a nossa população para as questões ambientais se uma
considerável fatia está tão justamente preocupada em ‘chegar ao fim do mês’!? O
que é que a expressão 'ecologia' ou ‘reciclagem’ pode ter a dizer a alguma destas
pessoas?!
Nestes
dias de reivindicações ao Governo, os pobres e os ‘conscientes’ clamam por mais
justiça e igualdade. Em Lagos vejo um 'iatista' pagar 3 mil euros de reparações
sem pestanejar; vejo um veleiro tão bem ornamentado que cada bóia de amarração
(e tem umas 10, pelo menos) veste o seu próprio e dispensável ‘jersey’ com um preço unitário que dava
para vestir da cabeça aos pés qualquer necessitado não caprichoso; vejo um
enorme iate, bem feio por sinal, registado em Lisboa e com o nome de ‘Bandido’
– e não consigo evitar pensar no proprietário… utilizando o mesmo adjectivo!
Miragem:
Ao
passar no meu barquito a remos frente a uma enseada entre a falésia, vejo na
areia um par de nudistas. Nada de mais. Como de costume dou um mergulho em direção
à praia. Ao aproximar-me da margem reparo que são duas ‘fêmeas’! Não há mais ninguém! Mas isto ‘é o sonho de qualquer homem’ –
exclamaria o Fernando Alvim (e eu também)! O coração bate disparatadamente mais
forte à medida que me aproximo a nadar (uma remeniscência do killer instinct primitivo). A expectativa faz mexer os neurónios…
mesmo sabendo que nada vai acontecer! Não é assustador tomar consciência que,
como concluiu Ranulfo Romo, a imaginação é muito mais potente do que a
realidade como motor do nosso prazer!? É como se de uma droga interna se
tratasse. Romo relacionou as expectativas, do ponto de vista neurofisiológico,
com a maturidade do cérebro e com a felicidade: ele próprio, do que mais
gostava não era falar perante auditórios nem escrever os seus artigos mas sim
deter-se um instante e viver no interior do seu cérebro para “visitar os
amigos… detectar detalhes… recuperar a vida, recreá-la…”. As nudistas, é ‘claro’
que eram estrangeiras (no caso alemãs). Afinal, estamos no Algarve! Miragem sim, mas
não tanto!
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