Na verdade o mal ‘China’ não é absolutamente necessário. É necessário, infelizmente e apenas, para trazer uma lição à humanidade, ou melhor, ao mundo do capitalismo desenfreado.
A desvantagem deste mal é, evidentemente, que aumenta significativamente a agressão ao ambiente do planeta e concorre para a crise económica em muitos países ocidentais.
A necessidade deste mal é a lição que traz ao sistema capitalista (além da redução da pobreza de parte da população chinesa), com a própria ‘medicina’ deste, mostrando-lhe que um sistema baseado na produção massificada, nas economias de escala, nas deslocalização com base na busca da mão-de-obra mais barata… não é sustentável para o planeta nem beneficia o futuro das sociedades que não podem, nem devem, competir nessa mesma linha.
Já não era justo que o mundo ocidental gozasse do nível de vida que gozava enquanto muitos outros países, sobretudo de África e sudeste asiático, além de verem que lhes exploravam os recursos naturais, vivessem em estado de miséria… Mas agora a situação pode inverter-se, o que também não é justo para muitas famílias ocidentais, que de repente se veem sem meios para sobreviver numa sociedade que exige que se os detenha só para existir. Nem quero imaginar as consequências mundiais quando a máquina de produção chinesa espirrar…
A
referida ‘medicina’ (a fuga para a frente do sistema capitalista) não cura, ou
cria mais problemas do que os que cura. Como afirmou o novo Papa: o sistema
capitalista mata. A senhora Ana Botella (presidente da Comunidade de Madrid)
disse (final Nov.13), por seu lado, disse que os períodos de governo do Partido
Popular (política de direita neoliberal) foram os de maior crescimento da
humanidade. Pode ser que sim, mas foram também os que criaram maiores
desigualdades sociais e maiores atentados ao ambiente (para não falar em corrupção
e atentados às liberdades individuais). O que esta senhora, que fossilizou em
meados do século passado (ela garantiu que nunca se dedicaria à política), não
quer saber (ou talvez não alcance) é que o paradigma da humanidade mudou há mais
de 20 anos: o mundo já não necessita ou pretende ‘o maior crescimento’ ou o
crescimento a qualquer preço, mas sim um desenvolvimento sustentável; e isto requer
um maior rigor e justiça fiscal, maior controle dos fluxos financeiros, e políticas de
âmbito social – tudo o que a ideologia de direita não deseja ver assegurado.
Para o crescimento se converter em ‘desenvolvimento’ deve ser mais justo e igualitário
(melhor distribuído) e necessariamente suceder a ritmos mais reduzidos para
poder ser mais constante e sustentável - a bem do planeta e das populações.
Os
dados já existem há muito tempo, só não vê quem não quer (recorde-se que também
Aznar, o marido de Botella, desprezou o ambiente e depois foi responsável de
uma controversa instituição que repartia fundos para palear desastres
ambientais)! Seguramente a sra. Garrafa não é uma grande leitora, mas
aconselho-a a ler, por exemplo, ‘The end of
poverty’ (Jeffrey D.Sachs), ou como a pobreza extrema pode ser debelada; ‘Limites à competição’ (Grupo de Lisboa) e
‘The spirit level’ (Richard Wilkinson e Kate Pickett), onde se
demonstra claramente o porquê de a ‘igualdade’ ser muito mais beneficiosa para
todos do que as diferenças levadas ao limite pelo excesso de competição; e já
agora também ‘Why kindness is good for
you’ (David Hamilton), que lhe mostrará as vantagens da bondade e gratidão
para a saúde de cada um e de todos!
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