sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Capitalismo, saúde e felicidade… - Crónica 55

Hayek, o proeminente economista austríaco, terá dito em 1932: «Temos a opinião de que, atualmente, muitos dos problemas do mundo são devidos a endividamento imprudente e a gastos imprudentes por parte das autoridades públicas». No ano seguinte, Marriner Eccles, o banqueiro mórmon do Utah, afirmou que «A economia do século XIX já não serve os nossos objetivos – uma era económica com 150 anos de idade chegou ao fim. O sistema capitalista ortodoxo de individualismo incontrolado, com a sua concorrência livre, já não serve os nossos fins.» (em ‘Keynes/Hayek’, de Nicholas Wapshott)

Quase um século depois estamos a viver uma crise semelhante à da Grande Depressão (pós crash de 1929) mas parece que não aprendemos nada com a história. “Repetimos sempre os mesmos erros”, escuta-se quase no final de ‘Cloud Atlas’, um excelente filme (agora nos cinemas) que denuncia as atrocidades dos interesses das petrolíferas.

 
Como se não bastasse, agora temos a prova dos malefícios sociais e mentais provocados pela iniquidade e desigualdade.
Já Alexis de Tocqueville (1805-59) tinha concluído que não são os níveis médios de bem-estar económico que criam confiança, mas sim a igualdade económica: as diferenças materiais só “servem para dividir-nos socialmente”. Agora, os dados apresentados por Richard Wilkinson e Kate Pickett (em ‘The spirit level’) demonstram claramente o porquê de a ‘igualdade ser melhor para todos’ - a ‘igualdade’ é muito mais beneficiosa para todos do que as diferenças levadas ao limite pelo excesso de competição (este trás à tona as piores qualidades do Homem).
Se a relação entre a saúde e a felicidade não é direta, a relação entre saúde e desigualdade, sim! Esta afeta a saúde: “Sabe-se desde há alguns anos que falta de saúde e violência são mais comuns em sociedades mais desiguais”. Agora, António Palha, presidente da comissão organizadora do 8º Congresso Nacional de Psiquiatria, vem alertar para que “a crise pode aumentar as patologias” da saúde mental (DN, 30.11.12) … É que, também já sabemos, o stress psicológico prolongado afeta a maturidade dos humanos e pode causar a sua regressão (ao matar neurónios do hipocampo - a parte decisiva para a aprendizagem e memória).

Estes motivos, são suficientes para defender sociedades mais igualitárias, justamente o contrário do que promovem os nossos ‘imprudentes’ e ignorantes (pois não atendem às lições da história) governantes, alegremente manipulados por um capitalismo desenfreado…

Estes temas são abordados no livro ‘As manias da Paula e as maiores tolices do mundo’ (encomendas ao autor, a 12€ com entrega em mão, ou em http://www.bubok.pt/livros/4919/As-Manias-da-Paula-e-as-Maiores-Tolices-do-Mundo).




 

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Justiça perversa! - Crónica 54

A maior injustiça da ‘Justiça’ é que esta culpe inocentes, mas tão mau como isso é que utilize dualidade de critérios no intuito de proteger prevaricadores!

Dois casos ilustrativos passados na Grécia e Itália, que mais parecem típicos de Portugal:
- Um jornalista grego, Costas Vaxevanis, foi acusado de crime por divulgar uma lista com 2059 nomes de empresários, advogados, armadores, médicos e políticos, seus concidadãos, com contas na Suíça! Por um lado as duras políticas de austeridade e, por outro, a evasão fiscal dos ricos e poderosos…
Hmm, deixem-me ver!? Quem é que vamos perseguir e tramar?! … o jornalista!!!
“Em vez de lutar contra os crimes de fraude ao fisco, a justiça ocupa-se de mim, que só me limitei a cumprir o meu dever, o dever de transparência”, terá dito Costas. Ora, a lista foi divulgada por um empregado do banco suíço HSBC e já tinha sido enviada ao governo grego em 2010, por Christine Lagarde (atual diretora do FMI) quando esta era ministra do governo francês. Aparentemente na altura nada foi feito!

Também em Espanha foi recentemente divulgada uma lista semelhante que conclui que 569 políticos espanhóis possuem contas secretas na Suíça (segundo Silvia Pons Olivier, para o New York Times). O New York Times recordou que a informação sobre a ocultação das contas pessoais de Emílio Botín (um dos homens mais ricos de Espanha) foi revelada por um empregado do HSBC após ser despedido. Além de Botín, e sua família, outras 568 pessoas têm contas secretas na Suíça. Entre elas, diversos grandes nomes da vida política e empresarial espanhola (segundo um artigo do sociólogo Vicente Navarro): Artur Mas - o pai do presidente da Generalitat (não faz lembrar a história do Isaltino?!) -, José Maria Aznar (que surpresa!), Maria Dolores de Cospedal (tão santinha que parecia no governo), Rodrigo Rato, Miguel Boyer…
O volume de dinheiro evadido desta forma representa 74% da fraude fiscal em Espanha, segundo a Agencia Tributaria (cerca de 44 mi milhões de euros), no entanto, a maioria das investigações da ‘Fazenda’ recai sobre os autónomos e os profissionais liberais, grupo cuja fraude fiscal representa 8% do total.

Isto não é o cúmulo da perversão!?! Agora, em termos de efeitos práticos…
- Seis - - - Seis sismólogos italianos foram condenados por não prever o terramoto de L’Aquila que, em 2009, vitimou várias pessoas… Os meios científicos mostraram a sua indignação: sabe-se que a ciência ainda não consegue prever sismos com todo o rigor. Carlos Fiolhais, no jornal Público (31.10.12), abre a caixa de Pandora questionando:
“Todos sabemos que, nos terramotos económicos a que temos assistido em Portugal e em Itália, os responsáveis políticos não têm sido acusados de qualquer crime, por ação ou inação. Deveriam ser?”

Iniquidade e perversidade têm caracterizado esta Justiça. Em Portugal acresce a inoperância! Investigar a fraude fiscal da maior fatia do total da evasão e chamar à Justiça os responsáveis é não só imperativo como o modo mais eficiente de repor a equidade.
“Nos últimos 10 anos o Estado gastou 8,5 milhões com pensões de 383 Deputados e 5 milhões de euros com 22.311 pensionistas que ganham até 217 euros” (www.fb.com/demissaopassoscoelho). Investigar sobre o realismo e justiça destes números é um imperativo, e uma forma de mitigar a perversidade do sistema.